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O destino do Capitólio
"A Cinemateca do Capitólio é um centro cultural dedicado exclusivamente para o audiovisual. Localizado no Centro Histórico de Porto Alegre, o Capitólio é espaço de cinema desde 1928. Atualmente, discutir o futuro deste Patrimônio Histórico é ainda mais importante."
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A Associação Profissional de Técnicos Cinematográficos (APTC-RS) promove, nesta segunda-feira, um debate sobre o futuro da Cinemateca do Capitólio. A Prefeitura Municipal de Porto Alegre pretende mudar a forma de gestão do Capitólio, e os profissionais que se envolvem com audiovisual querem discutir os desdobramentos dessa mudança com representantes da prefeitura.


Para uma das fundadoras da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (Accirs) e professora do CRAV, Fatimarlei Lunardelli, a cinemateca tem importância pela divulgação e programação do audiovisual, além da diversidade do acervo, que contém obras de vários países e cineastas. “Assim, o espaço oportuniza, para as novas gerações, o contato com diferentes tipos de audiovisuais”, comenta. Além disso, o Capitólio é essencial, uma vez que trabalha com a preservação e memória da produção audiovisual do Rio Grande do Sul, tudo isso através do acervo documental. Segundo Fatimarlei, o debate é muito importante, pois essa contratualização implica em mudanças estruturais da Cinemateca. “O estado precisa responder sobre o futuro da memória e do acervo do Capitólio”, finaliza. 


Para uma das fundadoras da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (Accirs) e professora do CRAV, Fatimarlei Lunardelli, a cinemateca tem importância pela divulgação e programação do audiovisual, além da diversidade do acervo, que contém obras de vários países e cineastas. “Assim, o espaço oportuniza, para as novas gerações, o contato com diferentes tipos de audiovisuais”, comenta. Além disso, o Capitólio é essencial, uma vez que trabalha com a preservação e memória da produção audiovisual do Rio Grande do Sul, tudo isso através do acervo documental. Segundo Fatimarlei, o debate é muito importante, pois essa contratualização implica em mudanças estruturais da Cinemateca. “O estado precisa responder sobre o futuro da memória e do acervo do Capitólio”, finaliza. 

Fatimarlei Lunardelli | Foto: arquivo pessoal


Sabendo da importância do Capitólio para a cena cultural do estado, o Mescla conversou com a presidente da APTC-RS, Daniela Strack. Confere como foi o papo:

Daniela Strack, presidenta da APTC-RS

Daniela Strack | Foto: reprodução/Facebook


Como funciona a Cinemateca do Capitólio?


A Cinemateca do Capitólio funciona sob supervisão da Coordenação de Cinema e Vídeo, que é um braço da Secretaria Municipal de Cultura, em parceria com a Fundação de Cinema do Rio Grande do Sul (Fundacine). E é a Fundacine que, desde o início, quando foi arrecadado dinheiro para transformar o Capitólio em Cinemateca faz essa captação junto com a Petrobras. Então a Petrobras fez a parte final da obra, através da Fundacine, pela Lei de Incentivo à Cultura. E, quando a obra já estava concluída, foi a partir da Fundacine, com a Petrobras, que a Cinemateca conseguiu adquirir um dos projetores mais modernos do Brasil. 


E qual o convênio que existe entre o Capitólio e a Prefeitura Municipal de Porto Alegre?


A partir da inauguração do Capitólio, a prefeitura firmou um convênio com a Fundacine: a fundação poderia continuar fazendo a captação de recursos para programação da cinemateca e para outras benfeitorias. Só que no final do último governo federal foi assinada uma lei que acaba com o convênio entre entidades e a prefeitura. A questão é que nesse processo, a Prefeitura Municipal está revendo as contratos em outros espaços como o  CEU – que é um centro cultural na Restinga -, alguns teatros além da Usina do Gasômetro.


Eles anunciaram no mês passado que o Capitólio passaria por essa contratualização e que seria aberto um edital em setembro, mas nenhuma das pessoas da Coordenação de Cinema e Vídeo ou da Fundacine tinham sido avisadas que isso aconteceria. Então, a Associação Profissional de Técnicos Cinematográficos (APTC) interveio para realizar esse evento e esclarecer dúvidas dos próprios funcionários da Coordenação de Cinema e Vídeo, que é da prefeitura de Porto Alegre. Porque, desde que a prefeitura atual assumiu, nunca foi repassado nenhum dinheiro, nenhuma verba para programação da Cinemateca. E quando eles anunciaram este edital, a prefeitura disse que destinaria para uma empresa privada um milhão de reais anuais.


Explica pra gente o que é uma contratualização?


Basicamente a contratualização é uma espécie de terceirização. A prefeitura pega um valor do orçamento, repassa para uma entidade e essa entidade administra o local. 


E qual o objetivo desse evento?


O nosso questionamento, o motivo desse evento, é esclarecer porque esse um milhão de reais não é entregue para a Coordenação de Cinema e Vídeo (órgão da prefeitura) para que ela siga administrando o espaço.  Então, isso ta acontecendo sem uma transparência, tanto com a sociedade civil quanto com a Coordenação de Cinema e com a própria Fundacine, que está na origem do projeto desde o início, quando surgiu a ideia de transformar o Capitólio em Cinemateca. A Fundacine foi parceira para viabilizar isso através da captação e com o lançamento do edital. Ninguém garante que a Fundacine vai ganhar esse edital ou que vai continuar trabalhando na Cinemateca. Porque é uma chamada pública e isso vai tirar a autonomia da Coordenação de Cinema e Vídeo, que vem tendo muita dificuldade para receber o orçamento da prefeitura. Então a APTC chamou esse evento pra esclarecer essas dúvidas junto ao secretário de cultura Luciano Alabarse, e uma pessoa da parceria estratégica. Também vamos ter a presença da Coordenação de Cinema e Vídeo,  mediação será da Ana Luiza Azevedo, sócia da Casa de Cinema (produtora de filmes). Também vamos contar com a presença do Beto Rodrigues, que é o atual presidente da Fundacine. A ideia é esclarecer, com a sociedade civil, comunidade e artistas, quais são os planos da prefeitura e o porquê de contratualizar.


Em dado momento foi sugerido a opção de contratualizar só a programação da cinemateca e não contratualizar o acervo, então o acervo estaria sob responsabilidade da Coordenação de Cinema e Vídeo. Mas a verdade é que a Cinemateca é um todo, então o acervo e a programação, tudo isso faz parte dela.


Existem muitos pontos a serem esclarecidos quanto a esse edital. Sabemos que a referência é a Cinemateca de São Paulo, mas ninguém sabe o teor deste edital. Então tem uma apreensão muito grande por parte da nossa comunidade artística e também dos funcionários da Coordenação de Cinema e Vídeo.


Qual a atual relação da prefeitura e da Cinemateca do Capitólio?


Atualmente, a prefeitura só paga o salário dos funcionários públicos da Coordenação de Cinema e Vídeo. E, por fora da contratação pública, eles pagam o projecionista e o programador. E os salários estão em constante atraso.


Qual a importância da Cinemateca do Capitólio?


A cinemateca tem três eixos fundamentais. O primeiro: na cinemateca, sob o braço da Coordenação de Cinema e Vídeo, tem o programa de alfabetização audiovisual, que dá a oportunidade para crianças terem contato com a linguagem audiovisual, assistirem filmes e aprenderem. Os professores, principalmente de escolas municipais, recebem toda uma capacitação para trabalhar o audiovisual em sala de aula e levarem esse filmes pras crianças, e, às vezes, esse é o primeiro contato que elas têm com o cinema. E isso faz parte da Coordenação de Cinema e Vídeo e da Cinemateca. O outro fator é o acervo. Por exemplo, essa semana inauguraram uma exposição sobre cartazes do cinema brasileiro e toda essa exposição foi feita a partir do acervo da Cinemateca. Temos toda a história do cinema brasileiro contada através desses cartazes. No acervo da cinemateca a gente deposita cópias dos filmes gaúchos realizados, então também tem essa questão da memória, de guardar o audiovisual que foi feito aqui e, além disso, tem uma biblioteca enorme. Qualquer um pode ir na biblioteca consultar os livros. Também temos, junto com as cópias dos filmes, todas as bitolas disponíveis pro público. É só agendar e fazer a visita. Então é bem importante essa questão do acervo.


O último ponto é a difusão. As salas diferenciadas e a programação altamente qualificada, sempre com mostras do cinema contemporâneo, mas também mistura clássicos. É uma programação realmente fantástica, além do espaço que ela dá pros gaúchos e pro cinema nacional. Muitas pré-estreias dos filmes brasileiros mais importantes dos últimos anos aconteceram lá. Então eu acho que é uma forma de difundir a cinematografia fora desse circuito comercial que é esses cinemas de shopping que colocam blockbusters. A cinemateca não, ela traz um outro tipo de cinema pra cidade.


E, sobre a questão econômica, como que a Cinemateca está funcionando atualmente?


Atualmente ela funciona com o patrocínio da Petrobras. Não se faz mais programação com o auxílio da prefeitura. Inclusive, a prefeitura não teria dinheiro nem pra pagar o programador, então ela sugeriu que o valor do programador viesse a partir do dinheiro da bilheteria, porque o Capitólio tem uma bilheteria muito boa. A média de público, ano passado, foi de cerca de 60 pessoas por sessão, o que é um número fantástico. Quase nenhuma sala de cinema tem. 


Então a Cinemateca está numa situação delicada, porque a gente sabe que a Petrobras anunciou vários cortes em patrocínios da área cultural, mas renovou o patrocínio com a Cinemateca e tem grandes chances de renovar o ano que vem também. Mas atualmente ela só funciona graças à iniciativa privada – a Petrobras.

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