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Representatividade importa, e muito
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Whitewashing, na tradução literal, significa “lavagem branca” e, na sua aplicação, é reconhecido pelo “embranquecimento” de elenco, ou então, a substituição de personagens de diferentes etnias por intérpretes brancos. Ele se aplica, principalmente, na indústria cinematográfica e da teledramaturgia. No Brasil e no exterior, a prática vem sendo criticada nos últimos anos, gerando uma série de protestos e cobrança de mudança na postura das produtoras.  

Um caso bem recente que reascendeu a polêmica por aqui é o da novela “Segundo Sol”, da Rede Globo, que se passa em Salvador (Bahia). Os telespectadores perceberam, já na divulgação da trama, que o elenco é majoritariamente branco. O ponto principal da polêmica é que a cidade, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é a capital com mais negros do país. Ao incluir a população que se autodeclara parda, é a terceira no ranking nacional, com quase 80% da população local. 

Mas por que uma emissora escolheria um elenco que contradiz a realidade étnica das locações de uma novela? O jornal Correio Brasiliense publicou um trecho da nota emitida pela Rede Globo, se posicionando sobre o assunto. “Os critérios de escalação de uma novela são técnicos e artísticos. A Globo não pauta as escalações de suas obras por cor de pele, mas pela adequação ao perfil do personagem, talento e disponibilidade do elenco. E acredita que esta é a forma mais correta de fazer isso”, diz o documento. 

 

 

Elenco principal da novela Segundo Sol | Foto: Reprodução

 

Para a coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas da Unisinos (Neabi), Adevanir Aparecida Pinheiro, existe um racismo institucionalizado que gere as relações midiáticas como um todo. “Essa exclusão do negro na mídia é visível. Atores brancos são transformados em negros, como é o caso dessa novela. Pensar em uma novela na Bahia, o estado mais negro do Brasil, e dizer que não tem atores negros para colocar, é uma farsa, né?”, indigna-se Adevanir.  

No Brasil, cerca de 55% da população se declara negra ou parda, mas, ainda segundo Adevanir, o racismo perpetuado nas instituições apresenta-se em diversos eventos na vida dos negros. “Começa na infância, passa pela academia e chega até na falta de representatividade na televisão, quando se vê, por exemplo, atores negros atuando em papéis de inferioridade”, diz a coordenadora.   

Ela ainda argumenta que a falta de representação, que perpassa a vida do negro, resulta em uma alienação da identidade, causada por uma visão colonizada do mundo. “Toda a formação que os negros recebem é branca, eles adquirem a consciência do branco, uma consciência embranquecida. Eles encarnam uma identidade branca de tal forma que é preciso fazer um duplo trabalho de inclusão, história, identidade e consciência negra”, comenta. 

“Ainda tem professora que usa o lápis cor de pele, o que é terrível. As crianças já começam a embranquecer, da cor salmão pra frente. Começa aí a política de embranquecimento na consciência. Os brinquedos também são todos brancos, as bonecas são brancas. Não tem brinquedo africano, não tem brinquedo indígena”, explica Adevanir.

 

 


 

O Neabi 

Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas da Unisinos (Neabi)  vinha sendo gestado por Adevanir desde 1999, quando ingressou na Unisinos, mas foi em 2008 que virou espaço físico e atuante. Quem caminha pelo campus de São Leopoldo, periodicamente se depara com cartazes e ações promovendo autores negros, cultura africana, entre outros.  

O Neabi trabalha na inclusão dos negros nos espaços, o que, segundo a coordenadora, é a solução para “desembranquecer” a mídia, dando visibilidade aos papéis e atores negros. “Por isso que eu digo que deu um branco nos espaços. Nós temos que trabalhar essa visão descolonizante dos espaços, das áreas que não tem uma presença negra”, explica Adevanir. 

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