Produzir uma matéria, reportagem ou notícia sem o computador, hoje, é uma tarefa impossível. Encontrar fontes, confirmar endereços, buscar artigos e matérias relacionadas são algumas das rotinas diárias de qualquer jornalista, mas o uso da tecnologia a favor da informação pode ir muito além disso. O jornalismo de dados está cada vez mais presente nas redações e em reportagens multimídias mostrando que bancos de dados podem se tornar aliados da informação.
Dados e números começaram a ser mais atuantes no meio a partir do Jornalismo de Precisão criado pelo jornalista americano Philip Meyer. Cobrindo manifestações, Meyer começou a quantificar e trazer números para notícias que antes eram basicamente uma narrativa de ambiente. Em seu livro Precision Journalism, ele salienta que: “Houve um tempo em que tudo o que se precisava era dedicação à verdade, muita energia e algum talento para escrever. Você ainda precisa dessas coisas, mas elas não são mais suficientes. O mundo ficou tão complicado, […] que o jornalista precisa ser filtro e transmissor, organizador e intérprete, além de coletar e entregar fatos”.
O Jornalismo de Dados, porém, percorreu um longo caminho até se transformar no que é hoje. O computador demorou para ser aceito completamente nas redações e primeiramente apareceu apenas como um auxiliar. É nesse contexto que surgiu a Reportagem Assistida por Computador, o RAC. Segundo a professora e jornalista Marlise Brenol, “os computadores eram vistos como simples assistentes. Hoje, a gente olha para os computadores e sabe que eles são muito mais que isso, mas naquela época ele era uma simples substituição da máquina de escrever”, comenta.
Com a chegada da internet, o ritmo das mudanças e o uso de ferramentas digitais a favor do jornalismo aumentou. Os smartphones ampliaram o acesso da população e as vertentes de jornalismo cidadão se consolidaram. As pessoas passaram a comsumir a notícia de forma diferente. Não dependendo mais dos grandes portais, elas começaram a gerar informação também.
Essa expansão criou um caos informacional, em que informações mais densas, principalmente ligadas aos poderes públicos, demoram a ser buscadas, contextualizadas e entendidas. O Jornalismo de Dados ganha espaço nesse cenário de bases de dados estruturadas e ferramentas digitais. “A computação de dados gera informação, e a informação dentro de um contexto gera conteúdo, conhecimento e notícia. Essa informação gerada a partir dos dados e aplicada a valores jornalísticos gera notícia. Nesse contexto se utiliza ferramentas para ajudar a contar histórias de outras formas”, sintetizou Marlise.
O Jornalismo de Dados não supera a reportagem tradicional, eles se somam. As habilidades textuais são e sempre serão necessárias, mas os dados criam informação por si só e deixam o texto mais sintético. “Ao descobrir algum comparativo desigual não é necessário falar sobre ele, pois os dados estarão falando por você. Não é preciso colocar juízo no texto. O texto é exato e fala por si”, exemplifica Marlise.
Mas como extrair dados e os transformar em notícia? “A ferramenta básica para jornalismo guiado por dados é o Excel. São comandos de Excel que te permitem filtrar esses dados e ver quais são as informações que efetivamente te interessa. Depois do primeiro filtro, se compara com outros dados e a informação aparece”, explica a professora. Utilizando informações de diferentes bases e cruzando os dados pode se criar uma publicação multimídia, ou até mesmo um banco de informações atualizadas em grandes reportagens.