Mayara Floss entrou no palco trazendo números impactantes. Segundo ela, 50% da população do mundo reside em áreas rurais, mas apenas 24% dos médicos decide trabalhar lá. Em um evento que debate novas realidades, a médica direcionou a palestra para um cenário que, apesar de ser taxado como antigo, deve ser cada vez mais debatido, o rural.
Tudo começou em 2014, quando Mayara foi para a Irlanda ao conseguir um estágio como médica de família. Sem sinal, sem internet, poucas casas e muito verde foi como a médica resumiu o local do seu estágio. “Quando eu embarquei naquele carro, eu embarquei na melhor vivência da minha vida”, contou ela. Impressionada com o espírito de comunidade e familiaridade entre médico e paciente, Mayara soube que tinha encontrado seu rumo na medicina. “Depois que eu descobri e conheci as mãos dos trabalhadores rurais, eu jamais ia conseguir deixar de lado a família, a comunidade e a saúde rural”, pontuou a médica.
A medicina rural necessita da criatividade, por isso é preciso superar as adversidades e estar preparado para todo tipo de situação. “No campo, o cuidado demora muito mais para chegar e a gente, como profissional de saúde, deve estar muito mais preparado”, esclareceu ela. Nesse meio se trabalha com o inesperado “Ao abrir a porta para chamar o paciente, pode ser um caso de uma picada por cobra, um acidente com arraia, uma intoxicação por agrotóxico, uma depressão, diabetes ou pode ser uma história fantástica.”
Ao compartilhar histórias da vivência como médica, ela ressaltou que é necessário ter empatia e se colocar no local do próximo que vive em uma realidade completamente diferente da urbana. Emocionou a plateia ao lembrar dos pedidos simples e das grandes dificuldades que nem sempre eram relacionadas à saúde dos seus pacientes de zonas mais afastadas dos pacientes brasileiros.
Ao chegar no Brasil, encontrou resistência no tema da saúde rural. Poucos eram os que conheciam e muito menos os que apoiavam a iniciativa da médica. Mayara decidiu fazer um mochilão pelas ruralidades brasileiras “Era minha vez de colocar os pés na terra, de fazer uma viagem pelos interiores do Brasil e pelo meu interior”. Nessa viagem, conheceu agentes de saúde e médicos que enfrentavam várias dificuldades para levar saúde e qualidade de vida a todos.
Sua palestra encerrou com o pedido que todos se lembrem dos produtores e da área rural após consumir produtos agrícolas. “Será que essa pessoa tem acesso ao serviço de saúde como é o seu direito? a saúde rural não é uma simples comparação com a urbana. Eu me manterei inquieta enquanto eu não conseguir saúde para todos em todo mundo, inclusive nas áreas rurais”, finalizou.