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Fotojornalismo: imagem e texto são aliados na informação
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“Uma imagem vale mais que mil palavras” é um bordão muito utilizado, principalmente por aqueles que se valem do argumento de que só é possível acreditar em um fato se ele for visto. Mas é injusto dizer que o fotojornalismo existe somente para atestar a veracidade dos fatos documentados. Contar histórias através das imagens, humanizar o texto e trazer a tona o rosto dos personagens descritos na notícia é, sem dúvidas, um dos serviços da fotografia.

Fotojornalismo é a junção de duas estruturas de informação: o texto e a imagem. Uma não anda se não for aliada com a outra. Para a coordenadora do curso de Fotografia da Unisinos e doutora em Comunicação, professora Beatriz Sallet, o fotojornalismo é a captura do acontecimento em pleno vôo. “Uma boa foto é aquela que sintetiza o acontecimento. Que pega o acontecimento em pleno vôo”, contou a jornalista, que trabalhou por mais de 20 anos como repórter fotográfica no Vale dos Sinos.

Com uma formação geralmente em jornalismo, os profissionais que atuam na captura de imagem devem pensar nos diferentes formatos exigidos por cada pauta, o que exige agilidade com a câmera. “O fotojornalista precisa ter velocidade e eficiência, porque dependendo do tipo de cobertura, ele precisa tirar fotos, fazer vídeos e separar material para  enviar para a redação. Faz tudo direto do lugar do acontecimento”, contou Beatriz.

Professor de Fotografia da Unisinos, mestre em Comunicação e fotojornalista da Zero Hora, Bruno Alencastro acredita que  a importância de um profissional da imagem, mais do que de um fotojornalista, “é fazer narrativas visuais, independente da plataforma, e para um público cada vez mais consumidor de mídia digital”. É neste ponto que a coordenadora do curso da Unisinos conta que o meio acadêmico deve estar afinado com o mercado, trazendo disciplinas nas quais os alunos aprendam na prática o dia a dia das redações e as exigências do público.

O enxugamento das redações atingiram a editoria de fotografia nos veículos. É comum ver fotografias de grandes acontecimentos com os créditos de agências de notícias. Beatriz conta que o envio de repórteres fotográficos, assim como os de texto, para o local da notícia, tem se tornado muito caro para os veículos. Com isso, a compra de imagens das agência tem virado rotina nos jornais.

O lado negativo de assistir o acontecimento de longe e adquirir as imagens depois é que o jornalismo vai ficando cada vez mais “parecido”. Não é incomum dois ou mais veículos de comunicação estamparem a mesma foto de capa quando o assunto é um evento de grande repercussão. No mês de agosto quando aconteceu a tragédia de Barcelona, dois jornais de grande circulação no Brasil, noticiaram o fato com a mesma fotografia principal.

Foto: Arquivo pessoal

Tecnologia e relações de trabalho

Quando falamos em fotografia, é inevitável pensar naquela imagem perfeita que capturamos durante um show para a postagem no Instagram. O profissional do fotojornalismo não deixa de ter a mesma linha de pensamento já que  não preocupa-se somente com a fotografia feita para o impresso, uma vez que a pauta é realizada pensando em todos os meios em que a imagem vai circular.

Para Bruno Alencastro, o aparecimento das novas tecnologias vem obrigando os repórteres fotográficos a adequar seu conteúdo para os novos formatos. “Contar histórias independente do suporte da linguagem, ou seja, hoje em dia a gente é desafiado a fotografar para um formato vertical do celular, uma tela de pé que dura 15 segundos no stories (Instagram)”.

O professor conta também que as tecnologias mudaram a relação do público com os meios. Assim, com a participação crescente dos leitores, que enviam fotos e participam efetivamente das redações com seus relatos fotográficos, os fotojornalistas conseguem dedicar-se a pautas mais elaboradas, com maior refinamento, dando tempo do profissional pensar em seus conteúdos. “Essa coisa de todo mundo fazer foto e vídeo acabou tirando do fotojornalista esses acontecimentos factuais. Um acidente de trânsito sem grandes prejuízos, princípios de incêndio, essas coisas que acabam não sendo grandes pautas. Hoje o leitor faz isso. Eu olho com bons olhos essas relações”

Nos primórdios da fotografia, quando o francês Joseph Nicéphore Niépce registrou a aquela que é considerada a primeira fotografia da história, em 1826, foram necessárias oito horas de exposição de sua caixa escura para a gravação da imagem. A paisagem registrada, foi gravada em uma placa de estanho e o processo batizado de heliografia, ou gravura com a luz solar. Quase 200 anos depois, basta frações de segundos para uma imagem circular na rede e gerar grandes repercussões.

O fotojornalista é desafiado a fotografar para um formato vertical do celular, uma tela de pé. Uma imagem que dura 15 segundos no Instagram

Com o imediatismo exigido para a publicação de conteúdos, o engano ou repasse de informações incorretas acaba tornando-se um vilão nas relações do jornalismo. Beatriz Sallet alertou para as possibilidades de erro quando o assunto é a utilização dos meios digitais. “As imagens trazem mais veracidade para a informação, por isso é muito importante levar em consideração as fontes, de onde aquela imagem vem, assim como na notícia”, afirmou.

A facilidade de produzir conteúdos midiáticos na palma da mão jogou uma responsabilidade ainda maior para os profissionais que trabalham exclusivamente com fotografia nas redações. Bruno diz que é de extrema importância o fotojornalista manter-se atualizado para conseguir produzir conteúdos cada vez mais refinados, buscando sempre surpreender os consumidores de conteúdo do jornal.  O professor embarcou neste mês de setembro para uma especialização em Barcelona na Instituto de Estudos Fotográficos da Catalunha, buscando o que existe de mais atual e contemporâneo em questão de imagem.  

Mais do que nunca, o futuro do fotojornalismo e da produção de conteúdos é na percepção e entrada no mundo da convergência digital. Novos aplicativos de captura e compartilhamento de imagem surgem todos os dias, trazendo para o ramo pessoas que buscam pensar nas narrativas além do formato. O fotojornalismo do futuro depende dos profissionais que nele atuarão. A professora Beatriz Sallet acredita que os repórteres fotográficos passarão a ter a formação em fotografia, apostando no apelo visual da profissão, que cresce a cada instante. Para Bruno, quem estiver disposto a estar sempre inovando e trabalhar com dinâmica, será o fotojornalista do amanhã.

 

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