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Catherine Nicolao Tedesco
"“Somos todos cozinheiros, eu adoro essa palavra, eu gosto de ser cozinheira”"
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Quando o assunto é gastronomia, o brilho no olhar da chef Catherine Nicolao Tedesco demonstra o amor pela profissão. Ex-modelo, ela descobriu-se cozinheira após um longo período de luta contra um transtorno alimentar, e foi o ingresso no curso de Gastronomia da Unisinos que a ajudou no tratamento da doença.

Morando em Paris na época, ela conheceu o curso da universidade e decidiu voltar para o Brasil. Mais precisamente, para Garibaldi, na Serra Gaúcha. “Nesse período de magreza, foi  a gastronomia que ajudou na minha recuperação. Para eu parar de ter medo da comida. Foi maravilhoso. A gastronomia me salvou, de certa forma, e me trouxe uma profissão”, contou Catherine.

No dia 8 de março deste ano, a chef participou do “Todas juntas”, um canal do Youtube que promove o empoderamento feminino por meio de troca e união entre as mulheres. Na oportunidade, Catherine abriu o coração e contou sobre o pior momento de sua vida, no qual as cobranças das agências de modelo levaram-na a desenvolver um quadro depressivo. Depois de muitas conversas com a terapeuta, a então modelo, percebeu que a solução para seu problema estava com sua família.

Foto: Arquivo pessoal

Filha de nutricionista, sobrinha e neta de cozinheiras, ela se viu diante da oportunidade de seguir no viés familiar e entrar de cabeça na cozinha. A partir de então, foi só amor pela profissão, que começava a ser construída. “Me apaixonei, muito mais do que eu achei que iria me apaixonar e não parei mais. Estudei, larguei tudo, fiz a faculdade em tempo recorde”, lembrou. A modelo, que não conseguia relacionar-se saudavelmente com a comida, começava a transformar-se em uma chef que coloca amor em tudo o que cozinha.

O próximo passo de Catherine dentro da gastronomia foi no semestre de sua formatura, em 2013, quando o projeto de TCC ganhou forma e transformou-se na empresa “Le Petit Sablé”. Segundo a chef, enquanto alguns colegas fizeram o seu plano de negócios projetando empresas fictícias, ela focou em um projeto real, que em 2017 completou quatro anos de fundação. Foi nas idas e vindas da Unisinos que Catherine começou a ser conhecida. Ao comercializar brownies no ônibus, a qualidade e sabor dos produtos marcaram o seu nome.

Logo após a formatura, um divisor de águas definiu o futuro profissional. Ela sabia que era importante para a sua profissão ter a oportunidade de trabalhar no exterior e foi então que resolveu voltar a Paris. Trabalhando por um prato de comida, teve a experiência mais intensa na sua profissão. Foi lá que a chef pôde identificar o que queria ou não para a vida na cozinha. “Foi muito desgastante. Eu fui de graça. Eu era a auxiliar do auxiliar do auxiliar de cozinha, eu só ganhava a comida. Fui na loucura. Descobri que eu não queria trabalhar efetivamente em um restaurante, eu queria fazer coisas com mais calma, não com tanta pressão”, contou a chef.

Foto: Arquivo pessoal

Foi em Paris também que Catherine conseguiu aperfeiçoar e aprender novas técnicas na cozinha, que aplica até hoje. O ambiente francês sempre inspirou a chef que entra na reta final deste ano com um novo projeto profissional. A Le Petit Sablé vai abrir uma cafeteria, bem no estilo slow da Cidade Luz, onde as pessoas possam sentar e apreciar um bom café, esquecer por alguns instantes o corre corre do dia a dia.

A formatura não foi motivo para a chef desacelerar os estudos. Sempre que tem oportunidade, participa de congressos, cursos e feiras gastronômicas, buscando inovação para o seu negócio. Catherine é professora convidada de uma universidade da região, ensinando todo os conteúdos de conservas. Na Unisinos ela também teve a oportunidade de lecionar, e pretende encarar um mestrado no Vale dos Sinos assim que possível.

Apreciar uma alimentação saudável e sustentável

A aproximação da mãe de Catherine com a empresa fez com que a nutrição andasse aliada aos processos de preparo dos produtos. “Minha mãe é nutri das antigas, então ela vem muito nesta parte do que eu posso usar de produtos diferentes. É uma troca, na verdade, às vezes eu tenho uma dúvida, se algo é possível ou não, e ela me ajuda. Até na parte de qualidade de cozinha e manual de boas práticas”, contou a chef. Uma das criações de mãe e filha é o brownie funcional, que os clientes poderão provar no Le Petit Sablé Café.

Foto: Arquivo pessoal

A preocupação também é com a qualidade dos produtos. Catherine conta que as cascas das frutas utilizadas na fabricação das geleias são utilizadas na compostagem, feita por ela mesma na empresa. Os brownies também seguem uma linha diferenciada, com a preocupação da chef em encontrar produtos orgânicos. Além do mais, os vidros de embalagem das geleias são retornáveis, e o cliente que o devolver na próxima compra ganha um bônus. Um jeito que a chef encontrou para engajar os clientes na ideia de sustentabilidade.

“A vida forma um chef, antes disso, somos todos cozinheiros”

Catherine contou que a gastronomia vive um momento muito “gourmet”. Os programas de televisão têm contribuído para difundir a área, mas ao mesmo tempo, alguns vêm perdendo a linha e mostrando um lado mais comercial da cozinha. “Às vezes eles confundem e as pessoas entram na faculdade e nos cursos já pensando ser chefs e não adianta, quem forma um chef é a vida”, explicou. Para ela, a gastronomia deve ser vista em essência, buscando conhecer sabores, produtos de qualidade e muita técnica.

“Aliando técnica e um bom produto, a gente tem uma gastronomia de alta qualidade em casa, então a gente não precisa gourmetizar tudo e fazer preparos loucos. Eu acho que a gastronomia é muito simples, é ingrediente, técnica e aplicar isso com o coração. As pessoas tem que ir mais pelo sentimento delas e não por essa atmosfera que estão criando”, aconselhou Catherine. Ainda no assunto, a chef deixou uma dica para as pessoas que tem o sonho de entrar no mundo da cozinha. “Entrar de cabeça aberta para conseguir colocar amor e dedicação em tudo”.

Foto: Arquivo pessoal

Foi passando por todos os tipos de cozinha, que Catherine conseguiu mostrar seu trabalho como cozinheira. Ainda na faculdade, trabalhou em um pub de Garibaldi, onde inovou no preparo de hambúrgueres, feitos artesanalmente por ela. Naquela época, mesmo com o trabalho pesado nos eventos, onde chegava a preparar 500 lanches por noite, nunca deixou de lado a confeitaria delicada, formando assim sua fama de  chef versátil na cozinha. “Quando os cliente me ligam eles pedem coisas diferentes. As pessoa já me viram em tantos lugares que eu acho que elas associam o meu jeito de cozinhar a algo distinto. Uma noiva me chamou para fazer um casamento porque ela quer coisas diferenciadas e nós vamos fazer”, contou

Inspirações

Todo bom chef de cozinha tem outro bom chef no qual se inspira. Com Catherine não é diferente. Paola Carosella, Alex Atala, chefs locais como Rodrigo Bellora e até pequenos produtores que trabalham com elementos simples mas com muita qualidade são inspirações. “Tem um produtor de flores que tem uma história muito bonita. Ele trouxe as semestes de flores comestíveis na mala, quando foi estudar na Austrália, e hoje fornece para grandes chefs. São pequenas histórias que nos inspiram”, concluiu. Hoje, Catherine é a inspiração de muitos alunos de gastronomia e modelos, que veem na história dela, a superação de uma doença transformando-se em dedicação na cozinha.

 

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