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Meninas Superpoderosas, feministas e tecnológicas
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A primeira versão do desenho As Meninas Superpoderosas foi um sucesso entre crianças, adolescentes e também adultos. A estreia da série, protagonizada pelas heroínas Florzinha, Lindinha e Docinho, foi no final dos anos 90 e mostrava a saga das três irmãs de personalidades diferentes, que lutavam para salvar a cidade fictícia de Townsville.

Uma nova temporada do desenho animado entrou no ar: dessa vez, as meninas vivem em um mundo contemporâneo, onde interagem por meio dos smartphones, aventuram-se como youtubers. Além disso, em alguns episódios, abordam o feminismo e questões de gênero. Mas afinal, a abordagem da realidade em programas voltados ao público infantil é positiva?

A psicóloga Rosane Spizzirri, especialista em infância, adolescência e família acredita que sim. Para ela, os desenhos animados não só devem retratar a realidade como já o fazem. “As animações sempre buscam abordar a realidade. Não vejo problema em um desenho mostrar a interação com smartphones, por exemplo, até porque este é o mundo que estamos vivendo”, comenta. Segundo Rosane, é preciso que haja um cuidado na forma que alguns assuntos são abordados. “Não se pode banalizar questões de gênero, por exemplo. É importante tratar desses assuntos, mesmo em um programa infantil, mas é preciso ter cuidado na maneira com que eles são expostos, para não soarem preconceituosos”, alerta.

Para a psicóloga, os desenhos e as mídias são formadoras de opinião e são veículos onde as crianças se espelham. “Os pequenos se identificam com o que está sendo abordado na televisão, e muitas vezes não tem discernimento para entenderem o que está sendo tratado de fato”, frisa.

Em um clipe liberado previamente à estreia da série, Docinho aparece sendo chamada de “princesa” e reage agressivamente, contrária à referência que lhe foi dada. “Você me chamou de princesa?”  diz ela,  batendo no vilão logo em seguida. O fato reforçou a ideia de que a nova temporada mostraria as meninas lutando contra os estereótipos e discutindo sobre a força feminina dentro da mídia.

Para a jornalista e pesquisadora Pâmela Stocker, integrante do coletivo Gênero, Mídia e Sexualidade (Gemis), a presença de questões feministas e de gênero dentro dos programas voltados ao público infantil é fundamental. “Quando falamos do universo infantil, sabemos que os desenhos animados são uma das formas de contato da criança com a cultura. Além da família e da escola, a mídia também exerce um papel pedagógico e instiga uma visão de mundo sobre as crianças”, coloca.

Pâmela ressalta que a abordagem do assunto permite uma quebra de paradigmas. “Nos desenhos animados de alguns anos atrás, quem eram as personagens mulheres? Que espaço elas ocupavam nas narrativas? Temos uma infinidade de princesas e poucas mulheres independentes e heroínas nas histórias voltadas para todos os públicos. Quebrar essa hegemonia desde cedo vai alargar a percepção das crianças em relação à diversidade de papeis possíveis que podemos assumir na cultura”, exclama.

Para a jornalista, As Meninas Superpoderosas é uma animação que cumpre bem o papel de mostrar as realidades presentes . “Penso que As Meninas Superpoderosas são exemplares em trazer à tona o protagonismo feminino e outras discussões importantes. A produção também conta com uma equipe majoritariamente feminina e acredito que isso seja essencial para que tenhamos temas importantes sendo abordados de maneira sensível. Mas a verdadeira evolução seria um desenho animado não tachado como “de meninas”, algo que fosse destinado aos dois públicos e abordasse tais questões. Quem sabe essa nova temporada?”, indaga.

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