O acidente aéreo envolvendo a delegação da Chapecoense, que provocou a morte de 71 pessoas, entre jogadores, dirigentes e jornalistas, chocou o mundo e trouxe discussões sobre a maneira com que as grandes tragédias são abordadas e repercutidas pela imprensa.
Para o professor de Jornalismo na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e pesquisador do Observatório de Ética Jornalística (objETHOS), Rogério Christofoletti, a cobertura de uma tragédia é sempre um momento delicado para o profissional. “Nem sempre o jornalista está preparado do ponto de vista técnico e emocional. A complexidade da situação envolve faz com que não seja possível explicar esses fenômenos e seja difícil lidar com os familiares das vítimas”, comenta.
Christofoletti aponta que o jornalista precisa fazer um exercício de empatia, respeitando quem sofreu diretamente com a perda. “É preciso reestudar maneiras de abordar as pessoas em um momento tão delicado. É necessário evitar a exploração da dor alheia, a invasão de privacidade, e principalmente, entender a quando o entrevistado já não quer mais continuar com as respostas e dar espaço a ele”, destaca.
A jornalista Sylvia Moretzshon, professora de Jornalismo da Universidade Federal Fluminense (UFF), aponta que é preciso evitar as perguntas óbvias e a exploração da emoção. “É um momento de desconforto para profissionais e entrevistados também. Por isso, é importante saber lidar com as emoções, sem extrapolar e partir para o sensacionalismo”, ressalta.
Um dos momentos mais comentados pela mídia foi quando a mãe do goleiro Danilo Padilha, um dos mortos na tragédia, inverteu os papeis e perguntou ao repórter Guido Nunes, do SPORTV, como ele se sentia ao perder amigos da imprensa no acidente. “Foi um momento significativo, pela sensibilidade transmitida. Uma mulher simples e humilde fez a pergunta que todos os repórteres questionaram para os parentes das vítimas, surpreendendo a todos”, expõe Sylvia.
Para Sylvia, também é importante que os profissionais busquem uma qualificação para lidar com acontecimentos da grandiosidade das tragédias. “É preciso preparação por parte dos jornalistas. Acredito que eles devem buscar se aperfeiçoar nestas coberturas, que são importantes e ao mesmo tempo pouco exploradas”, salienta.
Orientações dos profissionais para que haja uma boa cobertura
Sylvia e Rogério destacaram alguns pontos que devem ser analisados pelos repórteres na hora de cobrir tragédias . Confira algumas orientações:
*Respeitar os enlutados e buscar afirmações apenas das fontes que desejam falar
* Evitar explorar sensações e emoções
*Ouvir especialistas que possam falar sobre a dimensão da tragédia ou possíveis desdobramentos
*Evitar as perguntas óbvias: “Como você está se sentindo” ou “Como recebeu a notícia?”
*Entender que os jornalistas não estão no controle da situação