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Palhaçaria: um encontro com o seu melhor humor
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Incompreendido por muitos, o palhaço é quase como um “eu” interior. Algo que se desperta e transparece às pessoas ao redor. É assim que a oficina ZIP: Zona de Investigação de Palhaçaria, promovida pela Trupe Zona de Teatro, busca apresentar a palhaçaria aos alunos recém chegados. A atividade, ministrada pelos palhaços Melissa Dornelles e Fábio Castilhos, força os participantes a serem “ridículos” – essencial para a arte clownesca – naturalmente.

Inicialmente, os alunos se apresentaram. Muitos deles eram estreantes nas artes cênicas e outros, apesar de estudarem teatro, estavam pela primeira vez numa aula sobre palhaçaria. Participantes de todas as idades e até uma mãe que levou a filha para partilharem do momento juntas. Então, Melissa contou um pouco sobre as origens dos palhaços. “O mais conhecido é o bobo da corte. O que fala as verdades para o rei, mas sempre se policiando para não acabar perdendo a própria vida. Afinal, se tirar muito o rei, vai pra forca”, relembrou.

Segundo ela, o nariz é como um portal que a leva a ser uma outra persona: a palhaça. “Ele traz outro estado, que não é do nosso cotidiano”, completa. Depois de todos se apresentarem e contarem suas perspectivas sobre a palhaçaria, iniciou uma meditação em grupo. Com uma música ao fundo, eles buscaram “sentir” – palavra de Melissa – o palhaço que tem dentro de si. Depois, com uma coreografia, todos seguiram em sintonia, apenas sentindo a música, quase como um mantra.

Após o exercício de concentração, eles fizeram uma atividade de interação entre si. Caminhavam rápido e interagiam. Uns com caretas, outros dando tapas na bunda de outros, mas o fato é que deveriam interagir de alguma forma inesperada. “Sente o teu corpo. A liberdade. Ele é teu guia. Teu mestre”, bradava Melissa para os alunos.

Divididos em duplas, com os narizes de palhaço já colocados, os alunos tinham de interagir contando de um a cinco para o outro. Entretanto, aos poucos, os números foram sendo trocados por ações definidas em conjunto com a turma. Aí, passou a se notar uma diferença entre eles: o ridículo do palhaço começou a transparecer naturalmente. Ao final da atividade, as duplas se apresentaram para o resto do grupo, cada um com seu trejeito.

Já com a performance da palhaçaria tomando conta, os alunos trocaram de duplas e a atividade mudou. Um virava as costas e o outro deveria fazer algo para que essa pessoa risse, sem que ela visse de frente. Ao rir, o aluno deveria virar e fazer o outro rir, também de costas. Ali, surgiram tentativas criativas de surpreender o colega, o que gerou muitas risadas entre todos os participantes.

Estudante de Teatro e Cinema no Galpão das Artes, Joana Caspar, 19 anos, era estreante em oficinas de palhaçaria e conta que sempre teve um “q” para a área. “Sempre fui bastante palhaça. Não tive dificuldade em colocar isso para fora. Gostei muito. As primeiras atividades te dão uma leveza e logo de cara tinha que fazer todo o público rir, né?”, lembra. Entretanto, ela conta que também se sentiu um pouco desconfortável. “Tu sente aquele desespero das pessoas não rirem de ti e buscar um outro caminho. Descobrir o teu palhaço é bastante difícil”.

“Com uma oficina só, não tem como eu saber de tudo. Mas pelo que eu percebi no final, o palhaço mais sério, que se acha mais, é o que mais tem a ver comigo”, tenta decifrar Joana, apesar de dizer que este lado, mesmo fazendo com que ela se sinta bem como palhaça, não é habitual dela.

Como se forma o palhaço?

Segundo um dos ministrantes da oficina, Fábio Castilhos, a ideia do palhaço é encontrar o teu lado ridículo. “Dizem que o nariz de palhaço é a menor máscara do mundo. Ela revela o teu lado ridículo. É uma visão tua sobre isso”, explana.

Fábio conta que a atividade foi conduzida para que eles chegassem a esse ponto de extrapolar e se exporem ao ridículo. “O palhaço é um estado. Tem a ver com a condução da oficina. Ao repetirem os números e errarem entre si, o exagero e a inadequação começam a aparecer”, esclarece.

Para ele, o palhaço funciona como uma linguagem. E compartilhar esse estado causa o efeito de humor nas pessoas. “Um palhaço bom está aqui jogando seus sentimentos e sua percepção ao público. Trazendo uma leveza. Ele é a própria graça”, acredita o artista. Castilhos também comenta que não há diferença entre o palhaço de circo do teatro ou do hospital. Eles têm apenas abordagens diferentes para com o público. “Um palhaço de circo é mais chamativo, pois tem que atrair o olhar da grande plateia e o de hospital, por exemplo, precisa ser mais sensível”, define.

“Trabalhamos muito com educação. É um braço que parte da nossa alma de artista. A formação de palhaços é reciclar o conhecimento e experimentar visões. A gente cresce junto”, explica Castilhos.

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