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Representatividade cresce na literatura infantil
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Uma menina de mais ou menos 8 anos ouve atenta a hora do conto. A história que está sendo contada é sobre uma princesa negra que se apaixona por uma costureira branca. Os olhos daquela pequena ouvinte brilham. Repetidamente, diz o quão linda é aquela princesa com a pele igual à sua. Janaína Leslão, a autora do livro infantil “A Princesa e a Costureira”, coleciona histórias como essa.

A representatividade na literatura infantil é um tema que gera discussões tanto em roda de amigos como nos bastidores de produção dos livros, considerada conservadora por muita gente. Janaína conta que suas histórias empoderadoras começaram em 2007, quando trabalhava como psicóloga com um grupo de adolescentes. “Eles tinham que fazer um esquete na escola e contar uma história. Foi ali que eu vi vários contos de fadas com finais felizes”, recorda.

Ao conversar com os alunos, a autora se deu conta que aqueles jovens não possuíam referências de finais felizes para histórias de casais homossexuais. “Isso me deixou extremamente triste, e eu decidi que, em algum momento, escreveria uma história assim”, conta. Foi então que, em 2009, o livro “A Princesa e a Costureira” nasceu. Mas só em 2015 uma editora se interessou em publicar o livro. “Os produtores são conservadores e parece não ter vontade de conhecer um novo público com esses livros”, analisa Janaína.

Este ano, a autora publicou seu segundo livro, “Joana princesa”, que conta a história de uma transexual. “Me pedem muitos temas. Acho que não vou conseguir atender a todos, mas quero continuar tratando de assuntos complexos em uma linguagem simples”, afirma.

Luciana Bento é mãe de duas meninas e autora do blog “Mãe Preta”. Ela conta que sempre buscou histórias que fizessem as filhas se sentirem representadas. “Comecei a buscar livros que tivessem entre os personagens crianças negras, indígenas e deficientes também. É importante encontrar na literatura o que se vê na sociedade”, afirma a blogueira.

Luciana tem uma livraria. Para ela, há medo das editoras em sair do senso comum. “Acho que as pessoas interessadas nesta literatura devem demonstrar isso, para que as editoras percebam e passem a publicar mais livros que tenham representatividade”, comenta.

Projeto 100 livros 

Eram muitas as indicações de livros que Luciana Bento dava para mães e pais que buscavam livros empoderadores. Pensando nisso, ela criou o projeto “100 livros infantis com meninas negras”. Além disso, conseguiu juntar essas obras em um só local e passou a incentivar famílias a apresentarem os livros para seus filhos. “Hoje eu conheço mais de cem livros que as crianças negras devem ler. A lista não para de crescer”, comemora Luciana.

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