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Semana da Consciência Negra: debates que devem ser continuados
"Série de palestras marca a data de 20 de novembro com a escuta da comunidade afro-gaúcha"
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Para refletir sobre o Dia Nacional da Consciência Negra, em 20 de novembro, que foi promovida pela primeira vez há 50 anos pelo pelo Grupo Palmares, os professores do Eixo de Formação Afrodescendente e Povos Indígenas da Unisinos decidiram organizar a Semana da Consciência Negra. O evento é promovido, também, pelo Núcleo de Estudos Afrobrasileiro e Indígenas-Neabi/Unisinos e o curso de Educação Física da Universidade. 

A Semana, que ocorre entre 8 e 22 de novembro de forma remota, traz uma série de conversas com estudiosos da temática racial para que os debates sobre as relações étnico-racias sejam expandidos no ambiente acadêmico. Para o professor Jorge Luiz Teixeira da Silva, um dos organizadores do evento, ela “é um convite à expansão da nossa consciência negra, aquela que todo brasileiro tem que ter de si mesmo para vermos o quanto ainda precisamos avançar na busca pela igualdade e pela sensação de sermos mais humanos a cada dia”.  

A Semana da Consciência Negra já abordou a importância do movimento negro para uma educação antirracista, a identidade cultural e a heteroidentificação, a arte como forma de resistência e ferramenta de educação, a desconstrução das práticas racistas  e a educação das relações étnico-raciais no colegiado da Unisinos.

Identidade cultural e heteroidentificação


A palestra do dia 16 de novembro, que aconteceu pelo Teams e alcançou mais de 70 espectadores simultâneos, contou com a participação do jornalista Manoel Soares como mediador, e com as falas dos convidados Anselmo Accurso, professor da Unisinos, e Gleidson Martins Dias, assessor jurídico e mestrando em Direito da Universidade.

Manoel Soares, Gleidson Martins e Anselmo Accurso falaram
para mais de 70 pessoas em videochamada pela plataforma Teams
(Foto: Reprodução Teams)


Os palestrantes foram provocados por Manoel sobre como associar ancestralidade e afro-futurismo entre os mais jovens. Para Anselmo, ou Mestre Ratinho – como é conhecido o professor de capoeira – “a memória liga gerações a gerações, fazendo todo esse ciclo vital entre elas, trazendo os fundamentos, saberes e identidade de toda essa gente não europeia que veio para o Brasil”. Segundo ele, esses ensinamentos ainda persistem, mesmo com o colonizador querendo apagar essas raízes, porque essa lembrança ancestral não pode morrer. 

A discussão sobre identidade foi muito trabalhada por Gleidson, que buscou explicar o conceito de heteroidentificação. “Ela significa identificação por terceiros. Primeiro eu tenho que me identificar como pessoa negra; depois, eu tenho que ser identificado pela sociedade como pessoa negra”, explica. O coautor do livro Cotas Raciais e Heteroidentificação: dúvidas, metodologias e procedimentos mencionou o termo para explicar sobre a política de cotas raciais, uma vez que ela deve usar o conceito de identificação e não o de identidade (que é um direito subjetivo). “Eu me identifico como uma pessoa negra, mas eu sofro preconceito pela minha fenotipia?”, concluiu o jurista com o questionamento. 

A palestra se estendeu até às 22h30, contando também com a participação dos alunos e professores. Entre as diversas discussões, abordou a necessidade de descolonização das estruturas racistas da educação e do pensamento sobre o que é ser humano, as novas visões de mundos possíveis e atualizações sobre as lutas contra o preconceito hoje. Comentando o racismo bestial que existe no Rio Grande do Sul, Manoel Soares recordou uma de suas experiências: “O dia em que eu estava indo para uma cobertura jornalística e o policial me botou deitado no chão, sujando minha camisa, e eu tive que voltar para a TV e trocar minha camisa, eu falei: aqui eu não fico mais”.

No que diz respeito a qual deve ser o papel de pessoas de pele clara na luta contra o racismo, Manoel enfatizou que ele é um problema de pessoas brancas. “Querer que nós pretos resolvamos o racismo é a mesma coisa que querer que uma mulher que foi estuprada resolva o problema do estuprador. Você vai pedir para ela: ‘o que nós podemos fazer para que o estuprador pare de te estuprar?'”, questionou o mediador, complementando que “Quando as pessoas estão querendo que a gente resolva o problema do racismo, elas estão imputando à vítima a responsabilidade de resolver um problema que é resultado da covardia do próprio racista”. 

Participe da programação 


A série de discussões se estendem até o dia 22 de novembro e encerra com os encontros A Educação das relações étnico raciais na Educação Física: Diálogos com os projetos de extensão PEI e Pró-Maior e Equipes Esportivas, a partir das 18h, e Corporeidade e estética: afro-futurismo em design estratégico, que ocorre às 19h30.


As palestras acontecem pela plataforma Teams e fornecem certificado para os inscritos no evento.

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