Deu certo

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Um baterista entre nós
"No segundo texto da série, o Mescla conhece o talento musical de Gabriel Ost, mais um artista da Escola da Indústria Criativa"
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Indo para as aulas, sentados no trem, esperando o circular. Os fones de ouvido são acessórios que fazem parte da rotina da maioria dos estudantes. Seja para escutar podcast ou ouvir música, as plataformas de streaming são aplicativos obrigatórios nos celulares. Em algumas situações, essa relação é tão forte que só escutar não basta, é preciso produzir. E é um desses casos que vamos conhecer hoje, no segundo texto da série #nossostalentos.

A arte como resistência


A comunicação e a cultura acabam se relacionando, seja como lazer ou como carreira. Além de hobby, a arte também tem uma função política. E foi depois de ter compreendido isso que o estudante de Jornalismo, Gabriel Ost, se reconheceu como artista pela primeira vez. “No momento em que adquiri a consciência do meu papel, ouvi a voz do Tio Ben dizendo ‘com grandes poderes, vem grandes responsabilidades’”, brinca o estudante.

Cena de Homem Aranha (2002) | Reprodução: giphy


A música entrou na vida do Gabriel ainda durante o Ensino Fundamental, quando começou a tocar na banda marcial da escola. Mas foi na orquestra do colégio que aprendeu a tocar bateria. Aos 12 anos, ganhou o instrumento dos pais e esse foi o maior incentivo que recebeu da família. “Esse foi todo o apoio que eles conseguiram expressar, não vou reclamar, se não fosse isso, nunca teria comprado uma”, explica Gabriel.


A Virgo existe desde 2016, mas a entrada do Gabriel só aconteceu na metade de 2018. Apesar de não se situarem em um único gênero, recentemente, a banda foi colocada na playlist Indie Brasil do Spotify. Pega teu fone de ouvido e escuta o primeiro álbum da banda, Sofá 7, enquanto lê essa matéria.


A banda tem forte atuação em Novo Hamburgo e é composta pelo Gabriel, Pedro Meyer, Mauricio Catanio e Rafael Decarli. É na cidade que o artista encontrou uma comunidade que ajuda e fomenta a cultura. Músicos, pintores, fotógrafos, escultores, dançarinos e atores. Cada um deles com sua própria arte e apoiando outros. “Crescer sozinho não é crescer. Essa galera nos inspira, sejam outros artistas ou quem cola nos nossos shows.”


Desde a sua constituição, A Virgo já lançou um EP, alguns singles e, recentemente, lançaram o primeiro álbum. É complicado para um artista explicar quais são suas inspirações e, conversando com o Gabriel, não foi difícil perceber isso. “Não sei te dizer, cara, é tudo o que a gente ouviu que nos faz lembrar estar sentado num sofá”, conta. Algumas influências para o álbum, então, acabaram sendo Puma Blue, Homeshake e Prince.


A música está presente na vida de todas as pessoas. Na trilha sonora dos filmes, nas propagandas e nos aplicativos de streaming de música. Talvez, por ser tão naturalizada, as pessoas esquecem da sua real importância. É por isso que os artistas têm que estar, constantemente, se reafirmando para a sociedade. “Imagina se fosse possível a música fazer greve, um dia inteiro sem uma melodia soar na face da Terra. Ser artista é resistir”, desabafa o baterista. Para Gabriel e a banda, resistir se torna ainda mais trabalhoso. Por serem artistas autorais e independentes, é ainda mais difícil lutar contra os algoritmos dos aplicativos e serem ouvidos – seja para encontrar visibilidade no trabalho e como indivíduos.


Durante a quarentena, a banda ficou dividida fisicamente, uma vez que cada integrante mora em uma cidade diferente. Eles ainda tentam produzir e trabalhar juntos, mesmo que de forma remota, mas, agora, sem retorno financeiro algum. Mesmo que as entradas dos shows fossem gratuitas, passar o chapéu sempre ajudou um pouco. Mas não quer dizer que o trabalho tenha acabado. A banda produziu o primeiro álbum e o Gabriel está bolando os clipes com as imagens de acervo deles. 


“Cada um pega numa ponta pra não deixar a peteca cair.” Gabriel conta que produzir é um enorme desafio, por conta da pandemia e do isolamento social. A “gasolina da arte”, segundo ele, é a troca de experiências com as pessoas, o que não está acontecendo nesse momento. Mesmo diante dessa dificuldade enquanto artista, o músico acredita que estar na Virgo é o que já fez de mais significativo.

“As pessoas não gostam de artistas, gostam de gente famosa”, conta o estudante sobre os desafios de estar em uma banda independente | Créditos: Douglas Hanauer


Ser estudante de Jornalismo e músico formam a identidade de Gabriel. Duas profissões que têm sofrido muito neste momento, tanto por questões políticas como econômicas. “Não quero que sintam pena de mim por isso, nem nada parecido, mas gostaria de uma atenção maior da sociedade pra essas profissões”, conta – já explicando como muita gente não considera artista como uma carreira. Na opinião dele, as pessoas confundem ser artista com ser famoso e isso invisibiliza o artista local. “Se o cidadão não quer ouvir o artista autoral independente, o bar não vai contratar ele”, explica. Dessa forma, quem ainda tem um retorno financeiro melhor, além de  conseguir agenda facilmente, são os músicos que abrem mão do som autoral e só trabalham com cover.


Em junho, A Virgo lançou o single do álbum “Puma Blue” – composto pelo  Rafael durante a quarentena. Além disso, a banda também trabalha com outros projetos, todos relacionados com as músicas. “Nos enxergamos muito mais como produtores de conteúdo num geral, com músicas, clipes, vlogs e agora podcast. Isso dá uma dinamizada no nosso brainstorm e aumenta a possibilidade do que podemos fazer”, explica.


Certa vez, perguntaram para Gabriel qual show ele iria, se este fosse o último da vida dele. A resposta foi simples: “no meu”. “Nada pra mim é mais satisfatório do que tocar”, conta. O baterista explica que, mesmo a resposta permanecendo a mesma, ele passou por uma crise artística. Perdeu o prazer de fazer shows por se preocupar e se cobrar demais. Aos poucos, ele se recupera e, para suprir a vontade de criar – já que não pode tocar bateria no apartamento -, ele desenha. 


Para depois da pandemia, Gabriel entende a importância de uma remodelagem no formato dos shows, uma vez que as pessoas vão demorar para recuperar a confiança de ir em eventos como esse. Mesmo tendo consciência disso, a animação do artista é grande ao pensar em tocar com a banda novamente. “Ainda assim, estamos prontos pra, quando acabar o vírus, fazermos um baita show em qualquer lugar que a gente conseguir. Pode ser numa praça, na rua, eu não tô nem aí, só queremos comemorar a volta segura da socialização”, explica.

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