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Empreendedores de tecnologia buscam investimento e aceleração
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Rosto de Rodrigo Brum


“Mais do que nas empresas, a gente está investindo nos empreendedores”, afirmou Sandro Cortezia, fundador e CEO da Ventiur, aceleradora de startups, durante a abertura do WarmUp. O empresário referiu-se ao Grupo de Investidores Fundo20 Tecnosinos, a nova sociedade de investimentos para startups de tecnologia, administrada pela Ventiur e baseada em cotas de participação.

Pessoa fala para público em sala ampla.
Sandro Cortezia, CEO da Ventiur, explica a aceleração. (Foto: Rodrigo B. Westphalen)

O encontro fez parte da seleção de startups para aceleração, iniciada em setembro deste ano. Com mais de 100 projetos inscritos, a etapa do WarmUp recebeu 29 pré-selecionados. As empresas realizaram atividades, receberam aconselhamento e tiveram os primeiros contatos com interessados em investir no fundo. O evento ocorreu na sexta-feira, 22, e no sábado, 23 de novembro, no Parque Tecnológico Tecnosinos, na Unisinos de São Leopoldo, e continuará com novos encontros nos dias 06, 07 e 14 de dezembro. O último dia é chamado de PitchDay, e será quando as startups de melhor desempenho irão apresentar propostas para os investidores.


Sandro contou que a Ventiur é uma sociedade formada por empresários experientes, com grande número de contatos no mercado, e uma rede de investidores. Segundo ele, a aceleradora está em busca de negócios que inovam e empreendedores “com brilho nos olhos”. O processo de aceleração que a empresa realiza é caracterizado por uma rápida experimentação e ajuste do modelo de negócios da startup, com mentoria e auxílio para transformar a ideia em um negócio de crescimento exponencial.

Sala com sete mesas e diversas pessoas trabalhando com computadores.
Startups dividem mesas de trabalho e colaboram em atividades. (Foto: Rodrigo B. Westphalen)

A procura pela aceleração não é pequena. Candidatos de diversos estados brasileiros se inscreveram, e empreendedores de Santa Catarina, Rio de Janeiro e São Paulo estavam presentes nessa etapa. Samir Azambuja, 34 anos, é UX Designer (Designer de Experiência de Usuário) e veio de Chapecó com a startup Atelier de Projetos. “A experiência de sexta e sábado foi incrível, já havia trabalhado, e venho trabalhando, com algumas startups, em projetos pontuais. Sempre tive muita curiosidade em saber quais eram as etapas de um programa de aceleração e captação de investimentos, então agora que estou vivenciando isso, consigo inclusive sentir qual a ‘dor’ de quem está passando por esta fase”, disse.


Juntamente com outros dois colegas, o designer passou a noite em claro, ajustando o projeto para o dia seguinte. “Quando chegou duas da manhã de sexta para sábado, o discurso começou a ser ‘não estou aguentando, vamos dormir e amanhã a gente acaba’.  Mas o desafio de seguir em frente foi nos motivando e percebemos que com ‘sangue nos olhos’, diversão e propósito, é possível fazer um pouco a mais”, contou. Porém explicou que nem tudo foi só trabalho: “Foi possível tirar tempo para tomar algumas cervejas, também. Afinal, o sucesso precisa ser intenso, inclusive em momentos de descontração”.

Três pessoas, uma mesa e diversas notas adesivas com palavras escritas.
Startup Atelier de Projetos em dinâmica de ‘brainstorm’. (Foto: Rodrigo B. Westphalen)

Fundada pelo arquiteto, professor e palestrante de 36 anos, Marc Gomes de Carvalho, no final de 2018, o Atelier de Projetos é uma plataforma de conexão entre clientes e profissionais de arquitetura e design de interiores. Após saber da pré-seleção para a etapa de WarmUp, Marc contratou uma equipe para levar o projeto adiante. “Esse processo de convites foi estratégico, pois uma startup precisa de um time com capacidades e conhecimentos diferentes e complementares”, explicou. O arquiteto agradeceu pela oportunidade. “Conseguimos evoluir enquanto profissionais e também enquanto empresa e time. Com certeza sairemos muito melhores do que quando chegamos, e isso só elevará o nível da startup, e o seu desenvolvimento daqui pra frente”, disse.


A cultura empreendedora e de startups ficou muito marcada pela grande presença de jovens sem experiência. Essa não é a realidade para a empreendedora Andreia Marin Martins, de 53 anos, co-fundadora da Usphera XR.  Andreia é especialista em gestão e desenvolvimento local e já atuou com a Unesco e o Banco Mundial. Ela decidiu unir o desenvolvimento local com tecnologia e sustentabilidade em seu trabalho, e em 2016, teve a empresa de tecnologias de realidade virtual e realidade aumentada, Usphera XR, incubada pela Ventiur, no Techpark – Polo Tecnológico da Feevale – em Campo Bom.

Andreia Martins e Maurício Santos, da Usphera XR e MedVirtua. (Foto: Rodrigo B. Westphalen)

Atualmente sediada no Tecnosinos, a Usphera XR está em busca de investimentos para o produto MedVirtua. A tecnologia é um simulador de mamas em realidade aumentada, que permite ao paciente e ao médico visualizarem os resultados de diferentes procedimentos cirúrgicos antes da realização. “[O WarmUp] foi excepcional, por poder compartilhar conhecimentos com startups da mesma área de Health Tech, com outras startups diversas e, claro, com os mentores”, disse. Martins considerou que independentemente do investimento, a experiência que se ganha e as “soft skills”, habilidades de relacionamento, que se aprendem são mais importantes. “Os mentores fazem muita diferença, o smart faz mais diferença do que o money”, afirmou, brincando com o termo “smart money”, que se refere a investidores que possuem muita experiência de mercado, além do capital.


Com a visão voltada para todo ecossistema, a CEO quer colocar a tecnologia a  serviço do desenvolvimento humano e da biosfera. “Vamos colocar esse aprendizado para o nosso crescimento enquanto empresa, e para o crescimento que a gente pode ofertar à comunidade e a todo o ecossistema. Quando um melhora, o todo melhora. É o que a gente espera”, disse.


Plataformas de diferentes serviços compartilhavam o  mesmo espaço. Thiago Lopes veio sozinho do Rio de Janeiro para apresentar a Streammus, que conecta músicos à produtores musicais. Em outra área de atuação, Bianca Costa apresentou as plataformas de compra e entrega de produtos de mercados, Shoppr e Gurvam. Ambas startups atuam com colaboradores autônomos para realizar a compra e entrega dos pedidos, porém, Bianca explicou que a Shoppr atua com supermercados, e é como um “laboratório de aprendizagem” para a Gurvam, que pretende beneficiar os mercados de pequeno e médio porte, quando for lançada.


Outra perspectiva


Elemar Heck, de 58 anos é aposentado da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), onde atuou por 30 anos na área financeira. Há dois anos,  ele entrou no fundo de investimento para startups da Feevale Techpark, administrado pela Ventiur. O aposentado contou que é conselheiro do fundo, que arrecadou R$ 2 milhões e hoje possui 10 startups ativas, pois uma quebrou. “Eu ajudo as empresas, faço reuniões, escuto, dou minha opinião. Meu tempo hoje, como aposentado, é praticamente todo com as startups”, contou.


A cultura das empresas tecnológicas é muito diferente da que Elemar conhecia. “Minha cabeça virou. Eu vim de uma empresa totalmente regrada e parametrizada, fixa. Aqui não, aqui tudo é diferente. Lá tu era conservador, aqui tu é liberal”, brincou. Interessado em participar do Fundo20, o investidor está acompanhando a seleção de perto, observando os candidatos e conhecendo os empreendedores. “Preciso conversar com as pessoas, sentir um pouco mais, clarear as ideias e conhecer as propostas para poder dizer ‘isso vai dar, isso não vai’”, comentou.


O processo de seleção da Ventiur ainda passará por mais duas etapas. Ao final do processo, no dia 14 de dezembro, cinco startups serão selecionadas para receberem os investimentos e participarem da aceleração. A aceleração tem duração de seis meses e conforme informações do site da Ventiur, conta com “uma série de atividades de capacitação, mentorias, troca de experiência entre os empreendedores, conexões de mercado e, principalmente, o desenvolvimento e implementação de um plano individual de aceleração para cada startup”.

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