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Jornalismo investigativo e independente em pauta nas universidades
"Confira a repercussão das palestras dos jornalistas do The Intercept Brasil para os estudantes de Comunicação e Direito no Rio Grande do Sul"
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Colaboração: Guilherme Machado

A semana que passou foi marcada pela presença dos jornalistas Alexandre de Santi e Leandro Demori, do The Intercept Brasil (TIB), no Rio Grande do Sul. A primeira parada do TIB no Estado foi no Teatro Unisinos, na terça-feira, 17, para a Aula Inaugural dos cursos de Jornalismo. A gravação do evento na íntegra está aqui

O objetivo dos encontros foi abordar questões ligadas ao jornalismo investigativo e independente feito pelo The Intercept Brasil. Na Unisinos, a palestra contou com a presença do editor adjunto do TIB, Alexandre de Santi. O jornalista foi recebido por uma plateia com cerca de 300 pessoas, composta por jornalistas e estudantes de Comunicação e de Direito, além de pessoas da comunidade. Coletiva.net, Sindicato dos Jornalistas e repórteres de veículos locais estiveram presentes. Além deles, coordenadores de cursos de Jornalismo, como Andres Kalikoske, da Faculdade São Francisco de Assis (Unifin), e Thais Furtado, da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico), da UFRGS, foram ouvir De Santi. Para a jornalista Luísa Fritzen, do Jornal do Comércio, de Porto Alegre, foi uma oportunidade para aprender um pouco mais sobre jornalismo investigativo e independente. “Acho que o trabalho de jornalismo investigativo que o The Intercept faz pode ser estudado daqui para frente, e vai servir de referência para o país”, acredita Luísa. 

Apesar de ser uma aula inaugural, o tema abordado extrapolou os muros da academia. O assunto é relevante para todas áreas do conhecimento, foi o que destacou o coordenador do curso de Direito da Unisinos Porto Alegre, Guilherme Azevedo. Para ele, o encontro veio em um momento de duas crises: a do direito e a do jornalismo. “A gente vive tanto no direito quanto no jornalismo a necessidade de criar pautas conjuntas em defesa da constituição”, ressalta Azevedo, que acrescenta: “As figuras públicas de Sergio Moro e Deltan Dallagnol revelam como a narrativa do direito brasileiro tem perdido pauta e ganhado heróis”.

Alexandre de Santi e Leandro Demori, no Teatro Univates, em Lajeado
(Foto: Elise Bozzetto)

No dia seguinte, De Santi também participou de um encontro com os alunos de Jornalismo da Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos), da PUC . À noite, a palestra foi na Universidade do Vale do Taquari (Univates), em Lajeado, e teve ainda a companhia do editor Leandro Demori. Na Univates, o debate com os jornalistas teve um elemento de tensão, pois o Movimento Direita dos Vales (MDV) chegou a planejar um protesto contra a vinda dos jornalistas. O ato, que tinha motivação política, foi cancelado dias antes da palestra. Contudo, a segurança no campus foi reforçada devido ao grande número de confirmações de presença no evento, que resultou em teatro lotado. 

O modelo de financiamento do TIB

Luciana Kraemer, professora de Jornalismo Investigativo, e Guilherme de Azevedo, coordenador do curso de Direito, mediaram o debate no Teatro Unisinos. 
(Foto: Guilherme Machado)

O The Intercept Brasil é uma publicação assinada pela First Look Media, financiada pelo filantropo e fundador do eBay, Pierre Omidyar. Além deste recurso, o TIB criou um programa de financiamento coletivo no Catarse. Após as reportagens da Vaza Jato serem veiculadas na imprensa nacional, a quantia arrecada na plataforma já ultrapassou os valores repassados pela First Look Media. 

Andres Kalikoske, que trouxe cerca de 25 alunos da Unifin para assistirem ao evento, sublinhou os aspectos ligados ao perfil do financiamento utilizado pelo The Intercept Brasil: “Apesar de ter um investimento de capital transnacional, o negócio se mostra sustentável também por oferecer produtos jornalísticos que exploram linguagens e formatos diferenciados e que não concorrem com a publicidade dos veículos parceiros”, comenta o professor. 

O estatuto das fontes anônimas

Alexandre de Santi no Teatro Unisinos
(Foto: Carolina Silveira)

De Santi, que já atuou em grandes veículos como Zero Hora, Rádio Bandeirantes, Rádio Gaúcha, ClicRBS e Terra, entende que a fonte não fala por acaso. “Ela quer que a denúncia vá adiante”, afirma. O jornalista citou que são várias as matérias em que o The Intercept trabalha com fonte anônimas, mas que sempre deixam claro aos leitores os motivos pelos quais não podem divulgar essas informações. A regra, porém, é sempre priorizar as declarações identificadas. 

Para Micael Vier Behs, um dos coordenadores do curso de Jornalismo da Unisinos São Leopoldo, a fala de De Santi foi uma verdadeira aula de jornalismo. “Deixou notória a importância de se preservar a identidade das fontes como um direito constitucional, mas, acima de tudo, destacou a relevância da atividade jornalística para a construção de uma sociedade verdadeiramente democrática”, disse.

O jornalismo investigativo do TIB

A professora Thais Furtado acredita que eles vão a fundo quando se trata de investigar. “Essa é uma forma legítima de se fazer jornalismo”. Durante a palestra, De Santi comentou que não importa quanto tempo demora para se publicar uma matéria, a prioridade deles é com a checagem de informações. Debora Gradet, coordenadora do curso de Jornalismo da Unisinos Porto Alegre, concorda com essa característica, e destaca o histórico de matérias do The Intercept Brasil e a relação de credibilidade deles com as fontes. “As fontes procuram o TIB porque o veículo tem credibilidade e sabem que vão ser tratadas de forma ética e respeitosa. Que aquela informação vai ser checada, e não são só informações que as fontes dão em off que eles vão publicar, tem um trabalho de reportagem em cima disso”, destaca Debora.

A liberdade editorial que a equipe do The Intercept Brasil tem é ressaltada por Edelberto Behs, um dos coordenadores do curso de Jornalismo da Unisinos São Leopoldo. Para ele, é muito importante essa autonomia no trabalho investigativo que desenvolvem. “Justamente por contarem com essa autonomia, com responsabilidade, o TIB produz, hoje, o melhor jornalismo investigativo no país”, avalia o professor. Behs destaca ainda o tratamento justo das informações. “Quanta informação sigilosa da Lava-Jato vazou para parte da grande imprensa procedente da força-tarefa? O próprio então juiz Sergio Moro enfatizou que o importante era o conteúdo das informações”, diz.

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