
Desde o século XIX a região recebe alemães, italianos, espanhóis, russos, ucranianos, espanhóis, judeus, palestinos e poloneses vindos de situações de guerra. Além deles, há os imigrantes econômicos, que buscam uma nova vida no Rio Grande do Sul, tendo como exemplo os colombianos, bolivianos, venezuelanos, congoleses, sírios, afegãos haitianos e senegaleses.
O Rio Grande do Sul sempre foi casa de imigrantes. Os alemães (chegados em 1824) e italianos (em 1875), etnias que compõe a maior parte do estado, migraram em busca de um melhor futuro, pois as terras férteis e vastas eram convidativas ao cultivo e criação de animais. Mais tarde, diversos outros povos vieram em busca de espaço, como os japoneses. Pode-se dizer que o estado se desenvolveu através da imigração e, por isso, sua cultura é peculiar, distoante do restante do país.
Doutor em Estudos Estratégicos Internacionais, Roberto Rodolfo Uebel conta que esse acolhimento é coordenado pelo Ministério da Justiça e o processo de adaptação ao Estado sempre variou. “No caso dos palestinos houve uma integração positiva, sobretudo com as comunidades históricas já instaladas no Estado. Por outro lado, os afegãos ficaram pouco tempo, tiveram problemas de adaptação em virtude da língua e do afastamento familiar”, conta Uebel.
Além deles, segundo o professor, “muitos haitianos, senegaleses, cubanos e sírios acabaram deixando o Rio Grande do Sul em virtude da deterioração das condições de trabalho e políticas, além da xenofobia que tem crescido muito nos últimos anos”. Em sua tese de doutorado, Uebel chama o fenômeno de “remigração e emigração forçada”.
O impacto da vinda dos refugiados
O Rio Grande do Sul, ao receber refugiados, é impactado positivamente, principalmente com enriquecimento cultural. “Torna o Estado mais cosmopolita, globalizado e integrado ao Sistema Internacional, promove o desenvolvimento econômico e o próprio empreendedorismo e o emprego”, destaca o pesquisador.
O professor cita o exemplo dos senegaleses, que chegaram ao Brasil e ao Estado na Copa de 2014: “eles solicitaram refúgio e muitos foram absorvidos pela indústria frigorífica de carne halal, uma vez que conhecem os processos de abate dessa carne específica para o mercado islâmico”, relata. Além dos ganhos na indústria, um Estado que acolhe refugiados melhora sua imagem frente à comunidade internacional, o que pode resultar em mais investimentos.
Uma nova vida no Rio Grande do Sul
Refugiados muitas vezes buscam recomeçar a vida em outro país, encontrando uma nova profissão e contribuindo para a economia local. Os Bahá’í, por exemplo, têm origem no Irã e um grupo de vinte deles chegou ao Estado entre 1986 e 1988. Christiane Bittencourt é membro da Comunidade Bahá’í de Porto Alegre e conta que hoje todos são naturalizados brasileiros. “Eles estudaram, se formaram e hoje temos entre eles médicos, empresários, dentistas, engenheiros”, conta Christiane. Segundo ela, a adaptação ao Rio Grande do Sul foi excelente e o grupo é “agradecido ao país pela oportunidade de recomeçar suas vidas”.
Entre os motivos que tornam o Rio Grande do Sul um local de abrigo para famílias refugiadas, estão a disponibilidade de moradia e prestação de serviços públicos para esses grupos. “Cito sempre o caso dos palestinos e afegãos, muçulmanos, portanto, que foram destinados ao Rio Grande do Sul por causa da já consolidada comunidade muçulmana e árabe existente no Estado”, observa Uebel. Os indicadores de empregabilidade também são determinantes para que mais refugiados busquem a região.
Os refugiados que aqui chegaram tinham à sua disposição oportunidades de emprego e acolhimento, por representarem mão de obra qualificada, por muitas vezes. Esse histórico de acolhimento mudou com o tempo e os níveis xenofóbicos passaram a crescer no país inteiro. Segundo a Dra. Maíra Inês Vendrame, professora do Programa de Pós-graduação em História da Unisinos, o primeiro indício deste movimento ocorreu durante o período ditatorial, que iniciou em 1964 e terminou em 1985, no qual o patriotismo abriu brechas para a intolerância. Atualmente, a região que se desenvolveu, em parte, pelo auxílio desses fugitivos, escolheu repeli-los. Segundo a Maíra Inês, o Estado está tendo uma atitude que nega a sua história e, ainda hoje, apesar da situação econômica do país, o Rio Grande do Sul tem, sim, capacidade de abrigar os venezuelanos que buscam refúgio.