Deu certo

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Uma jornalista apaixonada por rádio
"Ela tem 31 anos e coordena uma equipe de mais de 40 pessoas. Formada em Jornalismo pela Unisinos, Andressa Xavier acumula duas competências que dão um monte de trabalho: a de gestora e a de apresentadora dos programas Chamada Geral: Segunda Edição e Supersábado. Para entender como é a rotina produtiva da nossa personagem, o Mescla passou uma tarde na Redação Integrada da GaúchaZH. Foi uma experiência incrível, que fez este repórter, em início de carreira, lembrar da série "Sob Pressão", que passa na Globo. Traduzindo: tudo pode acontecer a qualquer momento no jornalismo. Quer entender mais? Vem com a gente!"
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Nosso encontro foi no dia 25 de junho, às 14h, uma tarde cheia de surpresas. Houve chuva forte, lentidão na Avenida Castello Branco e congestionamento no Túnel da Conceição. A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, repentinamente, julgar o habeas corpus de Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente da República. A ameaça do maníaco do ácido, que havia atacado cinco pessoas em Porto Alegre, ainda era comentada. Mas, para Andressa Xavier, editora-chefe da Rádio Gaúcha, aquele seria um dia “light”

Ao embarcar no Uber, percebo que o motorista ouvia, em som baixo, a Rádio Gaúcha. Pergunto se ele ouve a emissora com frequência. Ele responde que sim. Aproveito a deixa:

— Você conhece a Andressa Xavier?

— Sim, claro!

— O que acha dela? 

— Ela é incrível! Todas elas.

— Por quê?   

— Às vezes, quando estão fazendo uma entrevista, eu ouço o rádio e penso em uma pergunta, até que elas fazem exatamente o mesmo questionamento. Elas são muito inteligentes, são fantásticas.  

Finalizada a viagem, entro no prédio da GaúchaZH, localizada na Ipiranga com Erico Verissimo. Passo a roleta da recepção, recebo um crachá de visitante e sou encaminhado à sala de espera. Logo surge Andressa, vestida com uma camisa florida, maquiagem leve e cabelos presos.

— Guilherme? — Diz Andressa, com um sorriso e já estendendo a mão.

Nos cumprimentamos e seguimos a caminho da Redação Integrada, o ambiente onde os jornalistas do site GaúchaZH, da Rádio Gaúcha e do jornal Zero Hora trabalham. Evitamos o elevador e preferimos as escadas. Andressa é cordial com todos os colegas. Abre o sorriso a cada “oi” ou “boa tarde”. Sorriso, aliás, é uma característica frequente nela.

Alguns degraus depois, me senti ofegante, mas não era desgaste físico, e, sim, nervosismo mesmo, afinal, estava prestes a acompanhar e entrevistar a primeira mulher a ocupar a função de editora-chefe da Rádio Gaúcha. Andressa já passou por muitos cargos em 10 anos de trabalho na emissora. Começou como estagiária. Depois, em sequência, foi repórter, produtora, editora de reportagem e, atualmente, é gestora. “Foi tudo muito corrido. Eu tenho 31 anos. Em apenas 10, passei por quase todas as funções”, diz, orgulhosa.

Conciliar a posição de gestora com a profissional jornalista é um desafio diário para Andressa. Mas a experiência adquirida em outros cargos, comenta a editora, a fez ter empatia com os colegas e entender o todo. Resolvi ouvir também aqueles que compõem esse todo, ou seja, os colegas de trabalho. Comecei por Milena Schoeller, coordenadora de distribuição da GaúchaZH. Ela contou que tem plena confiança no trabalho da colega. “Andressa é uma pessoa responsável e também conhece muito o meio rádio. Eu consigo ficar tranquila com o conteúdo que está vindo da Gaúcha, porque ela tem toda a visão, conhece todos os processos”, elogia.

O conhecimento dos processos começou a ser traçado na faculdade. Aos 18 anos, iniciou o curso de Direito, na Unisinos. Mas, com mais clareza do que gostaria de ter como profissão, já na primeira aula trocou todas as disciplinas para algumas que pudesse aproveitar no Jornalismo. No semestre seguinte, mudou para o novo curso oficialmente. Andressa lembra da época, principalmente dos professores que se tornaram seus grandes mentores. Entre eles, Sérgio Endler e Daniel Scola, com quem teve aulas de rádio. O Scola, aliás, hoje é gerente-executivo e apresentador da Rádio Gaúcha. A dupla a ajudou muito a pensar às práticas do jornalismo.

Andressa ainda era estudante quando entrou na Gaúcha como estagiária. iniciou sua trajetória na produção do programa Gaúcha Repórter.  

Foi uma prova de fogo. Precisava organizar entrevistados diferentes todos os dias. Tinha que saber de tudo um pouco. Do estágio, passei um mês como freela e, depois, fui contratada. Então, eu fiz produção, redação, fui editora e fiz um tempo de reportagem. Nesse período, as Gaúchas (filiais da emissora) do interior foram sendo abertas, e eu fui destacada para implementar o padrão Gaúcha nas emissoras de Santa Maria e Caxias do Sul. Quando eu voltei, passei um tempo na reportagem e, depois, assumi como chefe de reportagem. Foi um baque! Não sentia que estava com todas as ferramentas na mão para me tornar uma gestora. Em um dia, tu entregavas um material por dia. No outro, passas a ser responsável por toda uma programação – Andressa Xavier

Fatos e imprevistos

Na redação, encontrei Bruno Teixeira, que comanda o podcast “Coisa de Preto” ao lado da colega Iarema Soares. Bruno também é produtor do programa Chamada Geral: Segunda Edição, apresentado por Andressa Xavier. Pergunto se posso entrevistá-lo; ele aceita. No estúdio, o jovem, de fala entusiasmada, conta que é responsável por montar o roteiro do programa, com a supervisão de Andressa. “A gente troca ideias do que está sendo mais importante no momento e, às 16:30, ela entra no ar. Mas, se vem uma notícia de última hora, a gente não se prende ao roteiro”, explica o colega. 

“Andressa é sempre muito objetiva na pauta e no que ela quer para o programa. Ela gosta muito de pensar o processo de como os programas estão sendo feitos. Sempre questiona: ‘Tal pauta não poderia ser assim? O que acontece se isso acontecer?'”, comenta o jornalista sobre sua chefe. Quando o programa está no ar, Bruno mantém o olhar nos sites, nas redes sociais e nos materiais que estão sendo passados pelos repórteres, enquanto seus ouvidos ficam sintonizados no radiojornal. Andressa se dedica mais ao que está sendo enviado pelos ouvintes via WhatsApp.

Ao sairmos do estúdio, Andressa estava mais agitada. O motivo? Tratava-se do julgamento do habeas corpus de Lula, que estava em andamento. Sentada em frente a Paulo Rocha, ambos tinham diálogos constantes. Não eram conversas aleatórias, e sim a decisão dos conteúdos que o público da Gaúcha iria consumir. Paulo é chefe de reportagem. É ele quem seleciona a pauta, determina o que vai ser notícia durante o seu turno e delega as tarefas para os repórteres conforme o perfil de cada um. Naquele dia, as atenções se voltaram para os possíveis desdobramentos do julgamento repentino. 

Dois repórteres já haviam sido orientados para que deixassem as malas prontas caso o ex-presidente fosse libertado. A programação do que iria acontecer na Rádio dependia do julgamento.

Caos? Nada. Dia de orações atendidas. “Nossa Senhora do Factual nunca nos deixa na mão”, brinca Andressa, apontando para a santinha no canto da mesa que comprou com a colega e amiga Milena Schoeller.

As jornalistas Andressa Xavier e Milena Schoeller contam sempre com a ajuda da Nossa Senhora do Factual. Crédito: Guilherme Machado

“Eu e a Andressa nos conhecemos há muito tempo. Eu vim da Rádio Gaúcha e nós trabalhávamos juntas. Temos uma sintonia muito grande. Às vezes, a gente só se olhava e já sabia o que tinha que fazer”, lembra Milena. Na redação, a dupla senta lado a lado, já que tudo o que é definido na rádio é repassado para a equipe de distribuição. Mas minha conversa com Milena foi interrompida. Algo havia acontecido, e ela precisava checar.

Protagonismo, sim!

Ouço muitos veículos mundiais dizendo: ‘Vamos colocar mais mulheres apresentando programas, colocar mais mulheres escrevendo’. Felizmente, quando isso ocorreu, a Rádio Gaúcha já tinha várias mulheres no ar. Foi acontecendo naturalmente, não foi imposto no sentido de ‘precisamos de mais mulheres no ar’. Foi um ‘Precisamos de pessoas competentes no ar'” – Andressa Xavier

Caminhando pela Redação Integrada, descubro mais mulheres em postos executivos. Dentre elas, Martha Gleich, diretora de Jornalismo de Rádio e Jornal. A jornalista tem 36 anos de carreira. “Passei por muitas situações em que havia discriminação, assédio e questionamento do meu trabalho pelo fato de eu ser mulher, dentro e fora da redação. Fora, aliás, é muito importante de se dizer, porque tem muitas fontes e alguns políticos que te assediam ou não falam com tanto respeito quanto falariam se fosse com um homem”, avalia Martha.   

Andressa diz se inspirar muito em Martha, assim como nas colunistas Rosane Oliveira, que cobre política, e Marta Sfredo e Giane Guerra, especializadas em economia. Há ainda Andiara Petterle, vice-presidente de Jornais e Mídias Digitais do Grupo RBS, que é referência dentro da redação tanto para Andressa quanto para Martha. A última, cita uma frase marcante dela: “É daqui pra frente!”. Dentro da área de comunicação, conta Martha, já existe um crescimento da força feminina de trabalho, tanto nas faculdades de comunicação quanto em redações jornalísticas. “Mesmo assim, aqui nós ainda não temos 50% de mulheres na redação, mas já temos um número expressivo de mulheres em cargos de liderança”, destaca Martha Gleich.

Para Martha, Andressa é uma menina com uma responsabilidade muito grande. Ela diz ser um prazer ver a atual editora-chefe da Gaúcha evoluir tão rápido na empresa sendo tão jovem. Como mentora de Andressa e outras jornalistas, Martha ensina: “Uma coisa que eu digo sempre para todas as mulheres é que não pode deixar passar, tem que enfrentar. Primeiro, tem que querer assumir a responsabilidade e, depois, quando o machismo acontece, não pode deixar passar”.

No ar

Andressa Xavier também é apresentadora dos programas Chamada Geral: Segunda Edição e Supersábado. Crédito: Guilherme Machado

Pouco antes das 16:30, Andressa entra no estúdio e se prepara para apresentar o programa Chamada Geral: Segunda Edição. Ali, seus companheiros diários são a garrafa de água, o bloco de notas e o WhatsApp, sua principal fonte de contato com os ouvintes. Na tela do celular, inúmeras mensagens relatam a situação ruim do tempo em diferentes regiões do Estado. Realmente, o céu estava mais fechado do que quando cheguei na redação. “O WhatsApp virou algo essencial na nossa programação. Passou aquela época em que o ouvinte apenas ouvia e nada mais, porque a tecnologia o fez estar mais pertinho da gente. Antes, precisava mandar um fax, ligar, mandar um SMS”, lembra a jornalista.

Permaneço em silêncio observando a dinâmica do programa. Repórteres entram e saem do estúdio, enquanto Andressa se mantém quase todo o tempo concentrada. Ela faz algumas pausas nos bastidores e se informa sobre as notícias apresentadas pelos repórteres. Acompanhar a performance de Andressa me fez lembrar de sua própria descrição em nossa entrevista inicial.

Eu sou uma jornalista apaixonada pela profissão. Acho que, para ser jornalista, tem que ser um pouco maluco e um pouco apaixonado. Faço o que eu gosto, amo e sempre persegui fazer rádio. Então, sou ouvinte de rádio desde a infância. Quando entrei na faculdade, já sonhava em trabalhar na Gaúcha – Andressa Xavier

A jornalista, que já conheceu muitos lugares e busca todos os anos conhecer um novo, é uma ouvinte apaixonada, assim como o pai. Mas, quando está com a família, em Porto Alegre ou Capão da Canoa, se mantém longe do rádio. “Fora isso, eu estou normalmente ouvindo a Gaúcha, seja no trajeto para o cinema ou a um jantar”, conta.

Naquela mesma tarde, o Comando de Policiamento Metropolitano condecorou Andressa com a Comenda Metropolitana do Comando de Policiamento Metropolitano por seus serviços prestados à Brigada Militar e ao Comando de Policiamento em prol da comunidade riograndense. Com certeza é o reconhecimento do trabalho de quem ama e tem orgulho do que faz, sempre de olho no que é relevante para o seu ouvinte. A jornalista, que não dispensa um bom chimarrão, leva a cidadania como guia.

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