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Robôs, fake news e jornalismo investigativo
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Com mediação da jornalista Carla Miranda – coordenadora de desenvolvimento editorial do O Estado de São Paulo (um dos jornais mais antigos e tradicionais do Brasil) -, mais de 300 estudantes de 56 universidades compareceram à 13ª Semana Estado de Jornalismo, em São Paulo. Os alunos assistiram a 16 palestras em quatro dias, de 25 a 28 de setembro. Abaixo, separamos as melhores informações e dicas para os futuros jornalistas.

Francisco Gil Castello Branco Neto é o atual secretário-geral da Associação Contas Abertas, uma entidade que visa contribuir para o controle social sobre o orçamento público. Ele foi o primeiro palestrante da Semana Estadão.

Com a palestra “Acompanhando os gastos no dia a dia”, ele abordou o uso de aplicativos e sites para rastrear gastos públicos de vereadores, prefeitos, governadores, senadores, deputados e até o presidente. Abaixo, a lista de ferramentas listadas por ele:

Gil Castelo Branco durante palestra na 13ª Semana Estado de Jornalismo / Foto: Natan Cauduro

– Detector de ficha de político: o aplicativo pertence ao Vigie Aqui, uma ferramenta online que descobre a ficha de políticos. O app é gratuito e pode ser baixado em smartphones. Através de um sistema de reconhecimento facial, o Detector descobre processos criminais, ações de improbidade administrativa e inquéritos. Basta acessar o programa e fazer uma foto do rosto do político, que pode ser tirada da televisão, santinhos, panfletos, debates, vídeos na internet, anúncios etc.

Ranking dos políticos:  trata-se de uma iniciativa privada com o objetivo de, como já explicita o nome, ranquear políticos do melhor ao pior. Nesse processo, são usados critérios específicos para criar o panorama geral. São eles: presença nas sessões; privilégios; processos judiciais; qualidade legislativa; formação; filiação partidária; extras. Contudo, o site também permite que cada usuário crie seu próprio ranking baseado em suas considerações e crenças pessoais.

Capital dos Candidatos: o site é uma parceria entre Laboratório Analytics da Universidade Federal de Campina Grande e o Ministério Público da Paraíba. A cada eleição, políticos devem apresentar ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) uma declaração dos bens que possuem. O site traz as informações diretamente do TSE e facilita a pesquisa sobre políticos.

 

Dentre os temas debatidos na Semana Estado de Jornalismo, a internet marcou presença. Os palestrantes ressaltaram, com frequência, a importância dessa área na construção do jornalismo e ações para o jornalista apropriar-se desse meio.

O próprio Estadão trabalha com o recurso IGTV, o aplicativo de vídeo do Instagram. Dentro desse meio, o veículo utiliza do projeto “Carrapato Estadão”. Os carrapatos são repórteres focas que seguem os candidatos à Presidência da República do Brasil, no pleito deste ano, durante compromissos políticos pelo país. Contrariando uma das principais normas do audiovisual, as filmagens são feitas na vertical. Com um smartphone contendo software de edição de vídeo, fone de ouvido e uma bateria, os cinco carrapatos informam a audiência pelo aplicativo.

Da esquerda para a direita: Everton Oliveira, Matheus Prado, Gabriel Wainer, Augusto Decker e Gil Castelo Branco / Foto: Natan Cauduro

 

O atual líder da iniciativa é o coordenador de TV do Estadão, Everton Oliveira. A equipe dos carrapatos é composta pelos repórteres Gabriel Wainer (Ciro Gomes), Talita Nascimento (Geraldo Alckmin), Matheus Prado (Marina Silva), Victoria Abel (Fernando Haddad) e Augusto Decker (Jair Bolsonaro).

Cobrir uma eleição presidencial pelo Instagram é algo novo. O projeto tenta conversar com um público mais jovem e que não é, necessariamente, assinante do jornal. De acordo com Oliveira: “A diferença dessa campanha para todas as outras que cobri está no uso das redes sociais. Traz transparência, as pessoas ficam mais próximas da realidade dos candidatos”.

Alguns números sobre o Carrapato Estadão: ao longo dessa campanha, o grupo fez 41 viagens e passou por 31 cidades de nove estados diferentes. Foram 103 vídeos publicados, de 22 de agosto a 24 de setembro. O programa do Estadão pelo IGTV, sozinho, já teve 370 mil acessos. Somado esse número com o de outras iniciativas do jornal no Youtube, Facebook, Instagram e Twitter, as redes sociais renderam quase dois milhões de visualizações – 1.825.000.

 

 

A tecnologia veio para auxiliar o jornalista. Foi com esse raciocínio que Tai Nalon e Laura Diniz, ambas jornalistas, apresentaram seus robôs: Fátima e Rui Barbot. Tai é diretora e co-fundadora da agência de checagem Aos Fatos. Em sua palestra “Fátima, o robô checador”, ela abordou a importância do boot na checagem da veracidade do discurso público.

Segundo Tai, o chatboot Fátima usa linguagem de programação Python e foi desenvolvido em duas etapas. Na primeira, a robô, através do Facebook, conversaria com pessoas usando o Messenger, aplicativo de mensagem da rede, para ajudá-las no processo de verificação online de informações, em como separar fatos de opiniões e em como saber se uma fonte é confiável ou não. Além disso, Fátima seria, e é, responsável por distribuir conteúdo já checado pela Agência de Fact-checking, Aos Fatos.

Tai Nalon, diretora e co-fundadora da agência de checagem Aos Fatos / Foto: Natan Cauduro

Na segunda etapa, já alcançada, Fátima consegue rastrear a distribuição de URLs com conteúdo falso pelo Twitter. A @fatimabot responde o usuário responsável pela publicação, avisando-o sobre a propagação de conteúdo falso.  Ela também acrescenta na resposta um link que demonstra a verificação completa da informação. Contudo, ela só avisa os usuários do Twitter caso a informação tenha sido previamente checada pela Aos Fatos.

Ao todo, a chatboot já mapeou quase 11 mil links e enviou mais de 1,5 mil alertas pelo Twitter. Segundo Tai, Fátima consegue furar as bolhas sociais e alcançar um público diversificado. “As chances de furar bolhas são maiores quando não há o peso institucional do Aos Fatos por trás de uma checagem. Por isso que a Fátima boot é legal. As pessoas acreditam nela”.

Laura Diniz, sócia e diretora de desenvolvimento do site JOTA / Foto: Natan Cauduro

Laura Diniz é sócia e diretora de desenvolvimento do site JOTA, uma iniciativa que começou em 2014 e hoje se transformou em um dos principais veículos de comunicação especializado na cobertura do Poder Judiciário. “Nosso objetivo era avaliar as escolhas dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), mas também os processos que eles deixam para trás”, afirma Laura.

O JOTA é responsável pela criação e manutenção do robô Rui. A função do boot é monitorar o tempo que o STF leva para julgar um processo judicial. O robô lança um alerta via Twitter @ruibarbot – e avisa quando algum processo fica inato por um ano (completa aniversário) ou alcança uma data expressiva, como um mês sem movimentação.

Daniel Bramatti é o atual presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e editor do Estadão Dados, núcleo de jornalismo de dados do periódico. Em sua palestra “Todos juntos contra as Fake News”, Daniel abordou o projeto Verifica do Estadão, um blog de checagem de informações falsas pela web.

Além de abordar a iniciativa, Bramatti afirmou não gostar do termo Fake News, pois sua tradução literal para o português não compreende a realidade da expressão. Para Bramatti, o termo mais adequado seria notícia falsificada. Segundo ele, o “jornalismo mal feito e enviesado não é fake news”. O erro jornalístico, ou apurações mal feitas, não configuram falsidade. São situações corriqueiras que o repórter lida. Para Bramatti, o erro não pode ser caracterizado como falsidade ou manipulação, pois essa associação prejudica a credibilidade da imprensa.

Ao todo, foram realizadas 25 semanas de jornalismo Estadão / Foto: Natan Cauduro

A jornalista Carla Miranda não foi só mediadora dos debates da Semana. Na manhã de quinta-feira, 27, ela foi responsável por ministrar um workshop sobre estrutura de texto jornalístico. Dos assuntos tratados, ela deteve-se, em especial, na construção do lide. Para Carla, existem quatro maneiras de começar o primeiro parágrafo de um texto: lide informativo; com personagem; com apelo humano; e com descrição.

Começar com a informação é o mais comum no jornalismo, é o lide tradicional: a fórmula 3Q + COP (o quê, quem, quando, como, onde e porquê). Ela deve ser usada para trazer, em primeiro lugar, a informação mais relevante do texto.

Segundo Carla, o lide com personagem é usado quando o protagonista é o melhor dentro de toda a apuração. Ele se encaixa totalmente dentro da proposta da matéria. O mais comum nesse tipo de parágrafo é mesclar a personagem com informação.

O apelo humano, para Carla, se faz presente no lide quando não há um único personagem, mas vários – cada um deles representando um aspecto do tema (ou dos temas) do texto. O repórter não quer “contar historinha’, ele procura se expressar de forma mais direta e empática. Na visão da jornalista, a maneira com que o repórter conduz o texto é decisiva para o sucesso desse lide.

Um primeiro parágrafo com descrição trata de situações especiais. De acordo com a jornalista, em textos de viagem são um exemplo, caso o local visitado seja desconhecido da maioria das pessoas, um lugar de difícil acesso. Além disso, situações extremas e incomuns também podem ser descritas num lide. Ela citou o caso de Belo Monte para ilustrar.

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