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#TEDxUnisinos: Lui Nörnberg
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“As fronteiras para mim são sempre móveis, se entrecruzam. E quem dá a grande mobilidade para as fronteiras somos nós. Eu sou um espírito inquieto e sempre tive esse sentimento de busca muito grande dentro de mim, embora eu não soubesse direito o que, nem para quê”, apresenta-se Lui Nörnberg, 47 anos. A história dele confunde-se, entrecruza-se e, por quase 46 anos, foi contada por Nara Nörnberg, mulher que guerreou com o mundo e consigo mesma até decidir o melhor momento de tornar-se Lui.   

Lui nasceu no corpo de uma mulher, habitou em Nara, como foi chamado em seu batismo. Canguçu, cidade do interior do Rio Grande do Sul, o viu nascer. Mas ele cresceu em Pelotas, a cerca de 40km distante. Mudou-se para São Leopoldo aos 17 anos a fim de cursar o magistério e ingressar na universidade. Permaneceu em São Leopoldo, tornando-se aluno do curso de Pedagogia na Unisinos.   

Lui tentou, em um último esforço desesperado, ser mulher. Casou-se com um homem e viu-se desmoronando junto ao matrimônio. Depois de um ano, atravessou a fronteira mais significativa de sua vida e, também geograficamente, mudou-se para Ji-Paraná, Rondônia, no norte do Brasil. Juntou o que restava de sua mudança, colocou as malas em cima de sua camionete e, na companhia de seu cachorro atravessou o país para, enfim, encontrar-se.   

Lá, Lui terminou a faculdade, trabalhou como professor e, ao descer novamente o país, levava consigo uma mala a mais, preenchida com lições de vida e experiência. “Rondônia permitia, como é típico da fronteira, viver cada um dentro da sua necessidade, necessidade da sua natureza. Então, por isso, Rondônia foi muito marcante para mim, me deixou muito confortável em estar olhando para mim, para as minhas escolhas, para quem eu estava sendo naquele momento, e para o que eu poderia vir a ser. Foi um marco neste sentido, tanto que eu vim pra cá fazer o mestrado e queria voltar para lá”, conta.  

Voltou ao Rio Grande do Sul, e à Unisinos para adquirir o título de mestre e doutor – e as contingências da vida o fizeram ficar. Dentro da universidade, construiu uma carreira sólida na docência e esteve à frente de diversos projetos pedagógicos. Lui saiu de Pelotas em 1988 como Nara, e, como que no fechamento de um ciclo, regressou quase 30 anos depois como Lui. Em 2017 passou no concurso da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e no ano de 2018 assumiu a coordenação do curso noturno de Pedagogia.   

Para falar no TEDxUnisinos, dia 17 de agosto, Lui enxerga-se diante de uma nova fronteira, e ultrapassá-la significa abrir-se para um novo e grande desafio.  “Eu nunca participei de nenhum movimento social ligado aos grupos LGBTs, eu não estudo esse tema. E tenho sido desafiado, desde que eu entrei na Federal de Pelotas, a conversar com esses grupos, trazer a experiência, a minha trajetória”, conta.   

Lui Nörnberg sobe ao palco do Teatro da Unisinos desafiando-se a compartilhar e traspor suas fronteiras. “Quando eu optei por isso (transgenia), eu optei por atravessar essa fronteira, não no intuito de ser visível para os outros, para os outros me verem, mas pra eu me ver, pra eu poder ver, espelhado no meu corpo, aquilo que eu via no meu espírito”, finaliza.

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