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#TEDxUnisinos : Gladis Kaercher
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Representatividade e empoderamento são as palavras-chave para descrever a trajetória de vida e os projetos criados por uma das speakers do TEDx Unisinos deste ano. Gladis Elise Pereira da Silva Kaercher começou a carreira muito jovem: com 19 anos formou-se em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e, depois de cinco anos lecionando em escola pública, decidiu que era hora de fazer mestrado e doutorado. 

A história de Gladis com as questões étnico-raciais veio à tona após a recusa de um convite para palestrar na Semana da Consciência Negra, em 2000, por achar que não sabia falar sobre o tema. “Desde que comecei na UFRGS, trabalhava como orientadora dos estagiários da pedagogia. Eu não me dava conta que já estava me envolvendo bastante com essas questões. Toda vez que surgiam questões raciais com os estagiários, como crianças xingando e brigas, eu era convidada a ajudar, intervir, dar opiniões, sugerir livros de história, etc”, comenta. 

Com a formação focada no trabalho com crianças, Gladis resolveu direcionar seus estudos e projetos para a formação de professores da rede de ensino fundamental. Em 2012, por meio da ex-aluna Tanara Furtado, Gladis teve a oportunidade de desenvolver suas propostas, através de uma pesquisa feita pelo Ministério da Educação.  

“O MEC fez um levantamento pelo censo escolar de quais temas os professores sentiam mais falta de receber informação. E um dos temas era colocar em prática o artigo 26A da lei de diretrizes e bases, especificamente a lei 10639, que é aquela que altera o artigo 26A e diz que tem que ensinar a história africana e afro-brasileira”, explica. A iniciativa acabou resultando na primeira edição do curso de extensão UniAfro, no ano de 2013, formada por uma coordenação inteiramente de mulheres negras.  

A proposta inicial foi de um curso direcionado para professores, pensando em cargas horárias que encaixassem na rotina de educadores que têm aulas o dia inteiro. Gladis tinha a intenção de promover um curso direto de sala de aula, onde os profissionais pudessem estabelecer diálogos e ações com os alunos, com a possibilidade de voltar para o UniAfro e passar um feedback. “Foi muito importante porque o racismo se mostra quando tu se debruças sobre essa temática da história do negro, das diferenças entre negros e brancos no Brasil, as diferenças de acesso à educação e de como o racismo funciona nas relações cotidianas. O curso fez as crianças pensarem bastante, e, sempre que tu colocas filhos a pensar, os pais vão junto” conclui Gladis sobre o retorno da primeira edição do curso.  

Após uma primeira edição satisfatória, Gladis Kaercher e a colega Tanara Furtado pensaram que seria interessante oferecer um material para os professores que participassem do curso, algo que pudessem trabalhar em sala de aula com os alunos.  Foi então que surgiu a questão da cor da pele de uma outra maneira. 

“O curso terminou, e tinha uma coisa concreta que nos incomodava muito e que sempre me incomodou, que era a história do lápis cor de pele. Quando as crianças pintavam figuras humanas ou faziam autorretrato não tinham o lápis correto”, comenta ela. Na época, Gladis e Tanara já conheciam estojos de giz de cera em tons de marrom, mas tinham que lidar com a questão da importação. Após testes em diversas tonalidades, o giz finalmente tomou forma. 

“Esse giz ocupou um lugar que é, como é que tu problematizas essas questões raciais, com uma criança pequena? Discutir racismo, discutir todas essas questões às vezes é bastante abstrato pra criança, pra entender as relações sociais, entender as relações de poder, entender o quanto é importante se sentir representado. Ou seja, poder pintar-se para uma criança na cor que eu tenho, na cor que é a cor da minha pele”, explica ela. 

Com repercussão do estojo de 12 tons de giz de cera cor de pele, produzido pelas coordenadoras do UniAfro em parceria com a gráfica PrintKor, Gladis Kaercher avalia o material como necessário para fomentar a discussão do racismo com as crianças. “Conseguir pensar as questões do racismo sempre a partir de uma concretude e também sem culpa. Porque discutir o racismo com uma criança branca pode ser uma discussão leve, ela não precisa colocar essa criança num sentimento de culpa de ‘nossa que horror o que minha raça fez com os negros’. Eu acho que é um tema que é necessário”. 

Os trabalhos de Gladis e suas experiências serão apresentados em mais uma edição do TEDxUnisinos, no mês de Agosto, que neste ano traz como tema as fronteiras. “Eu gosto de olhar a fronteira nessa potência, um lugar de intercessão. As fronteiras geográficas, culturais, eu acho que as fronteiras de gênero estão sendo construídas desse modo, contemporaneamente. Vejo a fronteira dessa discussão racial como esse lugar de potência, onde não há ‘lá estão os brancos e aqui estão os negros’, mas onde brancos e negros vão habitar e construir essa intercessão”, conclui Gladis Kaercher.  

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