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Novas caras na Indústria Criativa
"Conheça os novos coordenadores de alguns dos cursos"
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Este ano, novos coordenadores ingressaram em alguns dos cursos da Escola da Indústria Criativa. Para conhecer um pouco deles, mostraremos um especial de perfil das novas figuras icônicas que estarão à frente dos cursos de Jogos Digitais e Fotografia.

 

João, o fanático por jogos

João Ricardo de Bittencourt Menezes nasceu em Gravataí, no Rio Grande do Sul. Seus avós eram agricultores da área rural de Porto Alegre. Plantavam, colhiam e vendiam verduras para entregar na porta das casas do centro da Capital. A mãe, cuidava da casa. O pai, técnico em enfermagem, trabalhou no Hospital de Pronto Socorro até se aposentar.

Na escola, o João era um aluno de boas notas. Não gostava de estudar, mas tinha uma excelente memória, o que ajudava a lembrar do conteúdo nas provas. Em casa, era leitor assíduo de quadrinhos, assistia aos programas de tevê dos anos 80 e não perdia uma série animada. Aos oito anos de idade, teve o primeiro vídeo game, uma versão pirata do pioneiro Atari. Também ouvia música e gostava de literatura.

Foto: Juliana Borgmann

 

“Eu tenho uma imagem clara, uma vez eu tinha acho que uns 12 aos e tava jogando Megadrive e veio uma coisa tipo assim: ‘bah, eu quero fazer um negócio desses’”

Enquanto jogava no novo console, um Megadrive, é que veio a vontade de trabalhar fazendo jogos. Na época, era difícil comprar um computador e a família não entendia exatamente o que era a máquina, confundiam com o próprio vídeo game.

Aos 16, descobriu o mundo fantástico dos livros de Role-Playing Game (jogo cooperativo em que um grupo de pessoas cria a história a ser jogada em conjunto), o que ajudou a estimular a imaginação e o gosto pelos games. No mesmo ano, comprou seu primeiro computador. “Fui comprar quando eu tinha 16 anos, um 486, mas muito pilhado nessa área, queria entrar em alguma coisa pra fazer jogos”, relembra.

No Ensino Médio, João cursou Química, mas entendeu que não pertencia ao ramo. Fez vestibular na Unisinos para Análise de Sistemas e, como segunda opção, para Publicidade e Propaganda, “porque eu achava que tinha alguma coisa na área da comunicação”, comenta. Conseguiu passar para a primeira opção e iniciou o curso de Análise em 96.

O curso não proporcionava um ensino diretamente para games, então, sempre que podia, envolvia o assunto. “Ah, tem um trabalho de comunicação? Jogos. Tem um trabalho de empreendedorismo? Montava uma empresa de jogos, saca? Pra poder aproveitar ao máximo”, comenta. Se formou em 2002 e o trabalho de conclusão teve o tema esperado: jogos. Inclusive, a banca avaliadora foi composta por três professores que, mais tarde, elaboraram o plano político-pedagógico do curso de Jogos Digitais da Unisinos.

Após concluir a graduação, cursou o mestrado em Ciência da Computação na PUC-RS com a professora Lúcia Maria Giraffa, que pesquisava jogos voltados para a educação. Depois de formado mestre, passou a dar aula na Universidade Franciscana, em Santa Maria, até 2005.

“Sempre digo, não tem um dia que a palavra ‘jogo’ não tenha passado na minha cabeça”

Em 2004, a Unisinos lançava o primeiro curso de Jogos Digitais do país e estava formando o corpo docente. João foi chamado para compor o time de professores e lecionou para a primeira e segunda turma.

Também naquele ano, abriu uma empresa de games. “Entrei um pouco mais nessa parte de empreendedor, comecei a fazer uns jogos mais independentes”, conta. A companhia desenvolvia os jogos e vendia para empresas na Ásia, “Praticamente todos os jogos que a gente fazia aqui, mandava pra Asia. Na época a gente ganhava 10 dólares fazendo os jogos”, comenta.

A distribuição dos jogos na época era muito complicada. Era necessário vender o produto para as operadoras de celular e, para isso, existia um distribuidor que fazia o “meiocampo”. “Fui em feira na Alemanha, no Canadá, tudo pra tentar fazer essa distribuição. Até que um dia a gente conseguiu um cara que era integrador, que recebia jogos de vários lugares e ia mandando para as operadoras”, relata.

Em 2007, o João foi chamado para coordenar o curso de Jogos da Unisinos. Em 2013, porém, com o nascimento do segundo filho e o desejo de fazer doutorado, se afastou da função.

O doutorado foi a chance que João teve para estudar outras áreas. Ingressou na área de Ciências da Comunicação em 2014, com o professor Gustavo Fischer. “Assim eu fui me dando conta do quanto a área de jogos conversa com as outras. Computação, design, comunicação. Quis conhecer outras coisas, outros teóricos, abrir um pouco a cabeça”, fala. Mas nem em outros campos de estudo o João deixou de pensar em jogos. “As Imagens Videográficas nos Jogos” é o título da tese, que defenderá ainda nesse ano. “Tenho vários olhares, mas tô toda hora trabalhando com game”.

João, na esquerda, como coordenador em 2007

“Eu gostaria de trabalhar mais na produção de games”

João, agora focado na carreira acadêmica, sente saudade de produzir jogos. “Um dos meus orgulhos foi o primeiro game que a gente desenvolveu na empresa, o Shotguns n’ Goblins, relata. O processo criativo do game envolveu um desenhista do Rio de Janeiro, que trabalhou em parceria com a empresa. “Não tinham artistas aqui, então falei com meu parceiro, um cara do Rio. Ele trabalhava de lá e fez todas as sprites, todo o background“, comenta João. Para a trilha sonora, uma banda de Santa Maria estava lançando seu álbum e cedeu as músicas. Cada fase do game era trilhada ao som de uma canção da banda. “A gente pensava numas coisas que estavam bem à frente do nosso tempo”,
reflete.

Shotguns n’ Goblins, um dos jogos produzidos por João

A maior inspiração de João sempre foi a família. “Meu avô foi uma pessoa que batalhou, bem simples, mas um cara com muita visão e muito honesto, com valores muito fortes”, relembra com carinho. A esposa e os filhos também são fundamentais, “Minha esposa, pela sua garra, e meus filhos, que estão sempre me ensinando novas coisas. São meu laboratório para os experimentos envolvendo games”, brinca.

Seus orientadores foram o norte na sua vida acadêmica. Fernando Osório, na graduação, auxiliou com a iniciação científica de João. “Publiquei um monte com ele na parte de jogos. Foi um cara essencial”, fala. Lúcia Giraffa, no mestrado, e Gustavo Fischer, no doutorado, também fizeram a diferença na vida do coordenador. “O Fischer não foi protocolar, foi um cara que realmente fez a diferença”, relembra.

No mundo dos jogos, considera como referência John Carmak, um dos criadores do lendário Doom (jogo popular em primeira pessoa que combina elementos de duas e três dimensões). João também se considera influenciado pelos grandes nomes da literatura, como Neil Gaiman, Alan Moore e Stephen King. “É difícil de separar em caixinhas, mas são nomes muito importantes”, comenta explicando que, no fim, as referências transcendem suas áreas.

João e os filhos

“Eu acho que é uma outra época, um outro momento, um outro olhar”

Ao voltar para a coordenação do curso, João fala que esse tempo em que esteve longe fez bem para adquirir novos conhecimentos e refrescar as ideias. “Uma coisa que eu sempre achei da coordenação é que ela não pode ser profissão. A coordenação tem que ser passagem”, explica. Acredita que o coordenador deva passar um tempo na posição, dar seu olhar ao curso e, depois, dar espaço para que outra pessoa possa fazer o mesmo, com ideias novas e com ritmo novo. “Em 2013, eu já tava ficando muito assim, eu fiz as coisas que tinha que fazer e já tava meio que achando que não conseguia mais fazer nada. Então foi boa essa parada”.

João ressalta a parceria com sua colega Rossana Queiroz, que assumiu a coordenação do curso de Jogos no final do passado e mantém o posto. “Muito importante essa parceria e ela é uma pessoa muito legal”, comenta.

“É um curso que tem um DNA bem da Unisinos, de inovação”

Agora, João quer dar mais visibilidade e revitalizar o curso. “São 11 anos desde a última reforma no curso, muita coisa mudou”, fala. Pretende explorar mais o alcance dos jogos dentro da sociedade e dar mais suporte aos alunos, através de cursos de extensão e renovando a parceria entre a Unisinos e a empresa de games, Sony. Acredita que os jogos precisam falar de problemas sociais como racismo, e mostrar movimentos como a causa LGBTQ+ e as questões de gênero. “No cinema é comum falar disso, na literatura é comum falar, agora, nos jogos, as pessoas pensam ‘não, isso é coisa de criança’, relata.

 

Marina, a fotógrafa

“Tô debutando, este ano, na fotografia”

De uma criança que brincava de dar aula, escondida em seu quarto, a uma grande fotógrafa, professora e agora coordenadora do curso de Fotografia da Unisinos. A vida fez com que Marina Chiapinotto escrevesse certo por linhas inesperadas.

Em Santa Maria, quando criança, lecionava para alunos imaginários em um quadro negro que ficava no seu quarto. Gostava tanto da brincadeira, que deixava de fazer os trabalhos da aula para passar horas ensinando o que sabia para o cômodo vazio. Filha de professora, por diversas vezes acompanhava a mãe durante o trabalho, junto da irmã mais velha, já que não tinha quem cuidasse das pequenas em casa.

Com o tempo, foi criando gosto pelo ofício da mãe, que não aprovava uma filha professora. “Uma vez, a minha mãe me pegou dando aula ao invés de fazer meus temas de casa e ela falou ‘vai fazer tuas coisas, tu tens temas’ e eu respondi ‘mas deixa eu brincar, eu quero ser professora’ e ela tirou o quadro de mim”, conta. Sem o quadro, Marina riscava as portas do armário de madeira e não abandonou seu carinho pela profissão.

Foto: Rodrigo Blum

“Na infância, como dá pra perceber, eu era bastante imaginativa, digamos assim, e eu já escrevia muito bem”.

Marina participava de concursos de redação na escola e era sempre premiada. Nas aulas de português, se destacava. Na hora de escolher um curso superior, pensou no que sabia fazer de melhor e assim ficou em dúvida entre Jornalismo e Relações Públicas. “Eu escolhi o Jornalismo. Sempre fui de complicar e sempre escrevi muito bem. Pra mim, a escrita é fácil, é uma coisa natural”.

“Eu comecei a olhar para o que eu gostava, e exatas eu tinha pavor. Sorte que minha mãe era professora de Matemática, ela estudava junto com a gente em casa”, conta. Apesar de escolher Jornalismo, prestou o primeiro vestibular para Direito, apenas para agradar a mãe. “Eu fui fazer com falta de tesão porque eu sabia que não era aquilo que eu queria pra mim, eu achava tão careta e não convencional pra minha personalidade que eu fiz de qualquer jeito” – e acabou não sendo aprovada. No ano seguinte inteiro, estudou para o vestibular de Jornalismo e ingressou no curso em 2003, no Centro Universitário Franciscano (Unifra).

A irmã mais velha cursava Desenho Industrial e tinha uma câmera analógica para trabalhos da faculdade. “Eu olhava pra câmera dela e tinha muita vontade de pegar e fotografar e ela não deixava”, lembra. Um mês depois de concluir o curso, a irmã se mudou para São Paulo e deixou para Marina a câmera.

Logo no primeiro trabalho da faculdade, Marina recebeu a feira do livro da cidade como pauta. Deveria ser uma cobertura simples, apenas um texto, mas a estudante levou a câmera para a feira e a fotografou. Entregou a matéria com as fotos para o professor. Se surpreendeu quando o retorno chegou, ele havia gostado das imagens. “Ele perguntou se eu já fotografava e eu falei que não, que eu peguei uma câmera, coloquei um filme, botei no automático e fiz as fotos”.

No semestre seguinte, ingressou no jornal experimental da faculdade. Com o presídio da cidade como pauta, Marina levou a câmera novamente, e entregou fotos excelentes. “Eu fotografei e foi algo muito natural porque as minhas fotos ficaram muito boas […], não tinha técnica, mas eu tinha o olhar, que é algo bem importante”. Ao mesmo tempo, fazia a cadeira de fotografia. Uma das saídas de campo, na fábrica de vagões de Santa Maria, rendeu fotos que foram expostas no Museu de Artes do Rio Grande do Sul e a tornou finalista estadual de um concurso.

“Eu posso dizer que a fotografia foi um encontro feliz na minha vida. Muito feliz”

Em 2004, passou na prova para monitoria da cadeira de foto e, no final do quarto semestre, começou a trabalhar como fotógrafa em um jornal local, através da indicação de uma professora. Na redação, teve um extenso aprendizado, que carrega com orgulho. “Entramos no carro e o editor me deu a câmera na mão, aí eu falei ‘eu nunca peguei uma câmera digital na mão’, ele disse ‘bom, o princípio é o mesmo, olha e te acha até tu chegar lá porque tu vai ter que fotografar essa pauta’”.

Embora trabalhasse no jornal, ela sempre foi engajada com o curso. Manhã, tarde e noite, a Marina sempre estava em alguma atividade, ora na redação, ora na faculdade. Foi em um curso de extensão que ela teve um trabalho que considera muito importante, nem tanto profissionalmente, mas na pessoa que a Marina é. Consistia em ensinar fotografia experimental para crianças carentes por meio da técnica de pinhole. O objetivo era ensinar alfabetização visual.

Em outro momento do curso, trabalhou com assessoria de imprensa. Um dos professores era assessor da Secretaria de Cultura de Santa Maria, e os eventos municipais sempre tinham um pouco do seu suor. “Eu nunca trabalhei formalmente na assessoria, ali não era um estágio, era uma experiência real de assessoria”, comenta. Olhando para a mesa, ela diz que nunca imaginou que seria jornalista e que, dentro da profissão, trilharia o caminho da fotografia. “A vida deu um monte de voltas e eu acabei fazendo coisas que eu não esperava e terminei como professora coisa que eu sempre desejei na infância”.

Agora, como coordenadora do curso de Fotografia da Unisinos, Marina sente gratidão por todo aprendizado e reconhece que ele ainda não acabou. Como docente, acredita que aprende mais do que ensina e, na coordenação, não é diferente. Para finalizar, ela completa “Se tiver que resumir em uma palavra, essa palavra será aprendizado”.

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