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Projeto Nuvem é apresentado à comunidade acadêmica
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Texto: Kellen Dalbosco e Natan Cauduro

O Núcleo Universitário de Educação para as Mídias, carinhosamente chamado de Nuvem, deu seu primeiro passo ontem à noite (19) no Teatro Unisinos Porto Alegre. Com a plateia lotada de estudantes, os painelistas Drª Anna Christina Bentes (Unicamp), Dr. Ricardo Campos (Universidade de Frankfurt), Dr. Pe. Pedro Gilberto Gomes (Unisinos) e o jornalista Luis Nassif apontaram diferentes abordagens para temas como fake news, uso das redes sociais, desinformação e cidadania. O projeto propõe uma educação para as mídias por meio de palestras, cursos de extensão, debates e programas de formação. O Prof. Dr. Guilherme de Azevedo, do curso de Direito da Unisinos, fez a mediação das falas dos debatedores.  

Com uma fala curta, Dr. Pe. Pedro Gilberto Gomes, vice-reitor da Unisinos, louvou o projeto e seus idealizadores, que formaram um grupo de professores e pesquisadores das escolas do Direito, Educação, Comunicação e Design. Ele explicou que o projeto busca colocar em discussão uma realidade que está mudando o modo de ser no mundo das pessoas e, portanto, precisa de próprios e novos paradigmas para ser analisada.  “Quando a universidade monta e apoia um como este, ela diz: ‘tem algo grande acontecendo aqui'”, afirmou. Ele sustentou a ideia de que o grande desafiou apresentado é compreender esta nova ambiência, onde as pessoas não têm nenhum compromisso com a verdade e aprender com ela.  

Foto: Kellen Dalbosco

Drª Anna Christina Bentes, do Departamento de Linguística do Instituto de Estudos da linguagem da Unicamp, trouxe tópicos de reflexão e exemplos de colegas que exemplificam as relações entre linguística e redes sociais, além de conceitos e ideias do que se chama de texto.  “Os aspectos práticos das redes dependem fundamentalmente da produção, circulação e recepção ativa de textos. No caso do Facebook, uma das práticas mais presentes, está relacionada ao que Manuel Cassius denomina autocomunicação, que seria a capacidade de cada ator social fazer as vezes de uma fonte de informação”   

Ao encaminhar-se para o final de sua frase, ela abordou o caso da vereadora Marielle Franco, executada na última semana e as diferentes narrativas e discursos formados em torno do fato. Para ela, o caso exemplificou o funcionamento linguístico textual e discursivo das práticas de linguagem em rede. No seu ponto de vista, as redes sociais funcionam de forma massiva a partir de práticas comunicativas bem recorrentes, como denúncia e polemização.  

Foto: Kellen Dalbosco

O professor Dr. Ricardo Resende Campos, assistente de docência na cátedra de direito público e teoria do direito da faculdade alemã Goethe Universität, comentou alguns dos problemas enfrentados pelo direito no combate às fake news. No Brasil, segundo ele, existem sete projetos na Câmara dos Deputados que tentam controlar essa questão. Quatro destes, em que ele teve acesso, são “horríveis”, palavra usada por ele, pois não produzem o efeito de regulamentação, e sim menções a censura. Nesse contexto, ele questiona como a jurisdição do país legisla, verifica e pune a difusão da desinformação.  

“Onde fica o direito de resposta?” O professor comenta que em tempos de mídia tradicional sem a presença de redes sociais, era concedido ao cidadão o direito de resposta, caso uma notícia, considerada por ele como falsa, fosse divulgada. Com a internet, e consecutivamente as redes sociais, as fake news ganham muita força de alcance. Uma mentira publicada, mesmo que futuramente desmascarada, pode causar danos irreversíveis. 

“O meio cria uma nova demanda”, afirma. Campos também traz para o debate essa reflexão. O advento da internet modifica a forma como compreendemos a demanda por informação. A possibilidade de anonimato aumenta as chances de conteúdo calunioso. “Talvez fake news seja só um produto”, produto esse que se liga diretamente ao fator visualização. A necessidade de acessos comercializa a informação. “Dado não é mercadoria”. 

Foto: Kellen Dalbosco

Fake news e a distribuição do ódio 

 O jornalista Luís Nassif, no jornalismo desde os 13 anos de idade, criou e trabalha no GGN, “o jornal de todos os brasis”. Fake news, na visão de Nassif, são uma tentativa de separação. Incentivam o ódio e causam a manipulação. Mesmo o tema sendo visto com amplitude na internet, ele vem da velha mídia, forma usada pelo jornalista para representar o jornal impresso, rádio e televisão. Repleto de dados históricos, Nassif coloca a eleição americana de 1876 entre o republicano Rutherford B. Hayes e o democrata Samuel J. Tilden como a primeira fraude eleitoral. Uma interferência causada, em parte, pelo editor do The New York Times. 

Mesmo colocando a internet como nova mídia para disseminar informação, Nassif afirma que os principais sites responsáveis pela tarefa pertencem a grandes veículos de comunicação. O jornalista faz a reflexão de que esses grandes meios têm parcela de culpa na disseminação das fake news. Mesmo assim, há uma tentativa da velha mídia de se colocar como fonte de razão, fonte confiável em que a informação é mais bem apurada. A internet, principalmente redes sociais, são postas como o inimigo, o lugar em que a desinformação perpetua. 

Foto: Kellen Dalbosco
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