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Um livro para abraçar a alma
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Ler Eduardo Galeano é uma dádiva perpetuada em seus mais de 40 livros publicados. Falar de uma obra do jornalista e escritor uruguaio sem encantar o coração não parece algo possível. O “Livro dos Abraços” é uma daquelas obras que a gente dorme abraçado, que não consegue mais tirar da bolsa e que nos consola durante um dia longo e tedioso.

Em sua obra mais famosa, “As veias abertas da América Latina”, Galeano mostrou seu lado mais político, crítico e o despreparo para uma escrita tão crítica, o que o fez renegar sua obra, quase 40 anos depois da publicação. Mas foi este livro, que analisa a história do continente sob uma perspectiva de exploração econômica e dominação política, desde a colonização, que tornou o jornalista, apaixonado por futebol, conhecido em todo o mundo.

Chorar

Foi na selva, na Amazônia equatoriana. Os índios shuar estavam chorando a avó moribunda. Choravam sentados, na margem de sua agonia.  Uma pessoa, vinda de outros mundos, perguntou:

-Por que choram na frente dela, se elas ainda está viva?

E os que choravam responderam:

-Para que ela saiba que gostamos muito dela.

Falando da obra em questão, “O Livro dos Abraços” conta a história da América e do próprio escritor, a partir de pequenos e singelos momentos. Partindo para o exílio após ameaças da ditadura uruguaia, Galeano fala neste livro sobre crenças e mitos que ouviu outrora, quando passou por diversos países do continente e transcreve pensamentos que o permearam durante sua morada na Espanha.

Com textos pequenos que não chegam a duas linhas, aos maiores de duas páginas, o escritor passa para os leitores a sensação de estar sendo, literalmente, abraçado, enquanto outras, escancaram o sistema capitalista e explorador que sempre permearam a América Latina. Eduardo Galeano nunca deixou de lado o seu lado político, e o deixou nas entrelinhas, ou certas vezes explícito, em contos como “Vida profissional/1” e “A desmemória/3”.

A noite/3

Eu adormeço às margens de uma mulher: eu adormeço às margens de um abismo

Publicado pelo primeira vez em 1991, ensina aos leitores lições sobre mundo, liberdade, prisão, sonhos e realidades e o interior de cidades da América Latina, de um jeito fácil e lírico, acima de tudo. Fica a impressão de que Galeano escreveu o livro para que fosse lido aos poucos, encontrando um conto certo para cada etapa do nosso dia. Um livro para deixar na cabeceira da cama, no bolso da mochila ou em cima da mesa de jantar, para não esquecer que ele está aí.

Logo na primeira página do livro, Galeano revela o conteúdo da escrita “Recordar, do latim re-cordis: tornar a passar pelo coração”. Poderíamos todos escrever o nosso livro dos abraços e fazer como o autor fez, abraçar as nossas memórias, por mais tristes que que possam ser. Relembrar cada passagem da nossa vida como uma história a ser contada. Confortar o nosso presente com as lições de outrora.

 

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