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Entrevista com Guilherme Roennau, da Multiply Clothing
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A Multiply Clothing utiliza os conceitos de streetwear, life style e hip hop para criar roupas que estampam os gostos dos integrantes do projeto. Estudante de Comércio Exterior e sócio do empreendimento, Guilherme Roennau conta um pouco sobre a história da marca e inspira quem quer começar um negócio.

Mescla: Como surgiu a ideia de ter uma marca?

Guilherme Roennau: A Multiply nasceu de uma forma bem despretensiosa, na verdade. Eu e o Guilherme Stacke sempre falávamos sobre ter um negócio próprio, fazer algo por nós, mas ficávamos sempre na conversa. Não sabíamos direito o que fazer e, na época, estávamos mais ou menos na metade da faculdade, trabalhando em empregos paralelos e em dúvida sobre o futuro.

Esse lance do streetwear era um negócio novo pra nós. Curtíamos o estilo e as roupas, mas não conhecíamos a fundo o conceito. Também unimos isso ao lance de que gostávamos de rap, grafite, a cultura hip hop em geral e pensamos: “Vamos fazer umas camisetas”. Nisso, chamamos o Luc Mushumba para participar do projeto, que tinha o mesmo pensamento que eu e o Stacke quanto a esse lance da moda, do rap, etc. Depois de algumas reuniões, então, surgiu a Multiply.

Nós não tínhamos nenhuma experiência sobre fazer camisetas. Porém essa ideia de poder expressar por meio dos produtos o que nós gostávamos foi o que nos deu essa vontade de transformar esse projeto de negócio próprio numa marca.

Mescla: Como vocês descrevem o conceito do projeto?

Guilherme: No começo, bem no começo mesmo, pensamos mais em uma marca voltada para o rap. Não tínhamos um conceito bem definido para ela, e talvez isso tenha sido um dos nossos primeiros erros. Nem tudo saiu como planejado, inclusive, nem fizemos um planejamento, simplesmente começamos o negócio.

Não tínhamos um motivo para fazer essas camisetas, um propósito. Fizemos algumas unidades, estampamos, vendemos pra ganhar um dinheiro para fazer mais unidades, com estampas diferentes, para aí fazer mais dinheiro e assim por diante. No fim das contas, não tínhamos criado uma identidade muito forte para marca. Foi somente aí que começamos a ver a necessidade de um conceito por trás da Multiply, de um propósito.

Então, a gente foi construindo o conceito com o passar do tempo, aprendendo algumas coisas, mudando atitudes, renovando nosso logotipo e parando de simplesmente fazer camisetas por fazer.

Agora, vejo que nós, no momento em que estamos, queremos passar para as pessoas, através dos nossos produtos, muito mais do que só o rap. Também queremos passar o nosso estilo de vida, ou como a gente se refere normalmente: o nosso lifestyle. Dentro desse lifestyle, a gente transmite tudo o que nós gostamos, e é aí que entra o rap, skate, grafite, streetwear, moda, cultura da rua, do hip hop etc.

Mescla: Qual o público-alvo da Multiply?

Guilherme: Nós tentamos não nos definir como uma coisa só. A gente faz o que a gente gosta. Se a pessoa simpatiza e se identifica com essa atitude e com o estilo, ela é parte da Multiply também. Essa é a nossa multiplicação. O público que a gente tenta atingir é aquele que gosta e simpatiza com essas mesmas coisas que nós.

No começo, a gente fazia camisetas com foco no público masculino. Agora, vemos o estilo das nossas roupas como unissex. Isso se deu porque muitas meninas gostam dos modelos, compram um tamanho até grande, às vezes, e personalizam, fazem um vestido, removem a gola, diminuem a manga ou até compram um tamanho que sirva bem e usam como camiseta normal.

A gente percebeu que mesmo fazendo camisetas masculinas as meninas também se interessavam. Então, decidimos não definir como masculino e feminino. Se tu gostaste do estilo, da cor, da estampa, do boné, da camiseta, então sinta-se livre para comprar. O importante é se identificar com a marca.

Mescla: Acha que os estudos de vocês na faculdade influencia de alguma forma a marca?

Guilherme: Eu e o Luc cursamos Comércio Exterior, o Guilherme Stacke Publicidade e Propaganda, o Martin Mayer Administração de Empresas. Já o Ramon Oliveira e o João Scholz não estão fazendo faculdade. No momento, essas são as pessoas que estão compondo a equipe, com exceção do Luc e do Martin, que estão se dedicando a outros projetos também, mas ainda participam da marca de outras formas.

Nosso conceito de equipe não é muito formal. Nós consideramos parte do time qualquer um que esteja disposto a nos ajudar no trabalho, seja da forma que for. Se nós formos nos engajar em um projeto e de alguma forma tu puderes contribuir, então tu vais ser parte da equipe, mesmo que não seja para sempre.

De fato, o curso não é primordial para o trabalho que a gente faz, mas, com certeza, ajuda bastante. Por exemplo, o João e o Ramon não estão fazendo faculdade no momento, mas participam ativamente da marca. O João cursava Engenharia da Computação, algo assim. Ou seja, um curso que não tem nada a ver com a marca. Mesmo assim, de alguma forma, ele consegue se encaixar para ajudar em coisas que talvez os outros integrantes não tenham muito conhecimento. Independente de cursar algo ou não, nós acreditamos que as pessoas sempre vão poder te ensinar e ajudar.

Mescla: Vocês têm outros empregos?

Guilherme: A Multiply não é o único trabalho dos integrantes. A marca ainda não se sustenta financeiramente. Então, ainda temos que, de outras maneiras, gerar uma renda por mês para nos mantermos. Esse é um dos motivos para o Luc e o Martin não conseguirem participar tão ativamente da marca nesse momento.

Eu, o Stacke, o Ramon e o João trabalhamos juntos também para a Lift Movies. Esses e outros serviços que realizamos nos trazem uma garantia financeira. São projetos paralelos, que andam junto como um coletivo.

Mescla: Qual foi o maior desafio para tirar do papel as ideias que tinham para o projeto?

Guilherme: Creio que ter uma marca em si já é o nosso maior desafio, mas, para tirar as ideias da cabeça e fazer acontecer, o que mais nos bloqueia é a situação financeira. Talvez por algumas decisões erradas que tomamos no passado, por ser difícil de empreender no Brasil, por termos custos altos para realizar qualquer coisa com a marca, isso nos impeça de concretizar algumas dessas ideias que temos, pois para tudo precisa de dinheiro.

Durante toda a existência da marca, nos deparamos com diferentes desafios. Até chegou um momento em que a gente ficou completamente sem dinheiro, parou um pouco de se dedicar para a marca e precisou desenvolver outros projetos, para gerar uma renda. Com isso, a gente conseguiu se estabilizar e voltamos a olhar para a marca. Quase sempre vão acontecer coisas que vão te desanimar e dar vontade de desistir de tudo, mas são coisas que servem de aprendizado paro o futuro.

Mescla: Qual foi o momento de maior satisfação até agora em relação a marca?

Guilherme: Acho que o melhor momento como marca está sendo o que estamos vivendo agora. Temos diversos projetos para serem desenvolvidos, parcerias, voltamos a trabalhar diariamente na marca e estamos com uma visão de negócio completamente diferente e reestruturada. Ainda assim, temos muitas coisas para acertar e evoluir, o que vai acontecendo com o tempo se mantermos a dedicação.

Nossa maior satisfação é ver quando as pessoas gostam e reconhecem o teu trabalho. Quando acertamos parcerias com nossos amigos e quando temos a oportunidade de ajudar aqueles que, assim como nós, também estão no desafio de ter seu negócio próprio.

Temos amigos que estão começando nessa jornada, que compartilham dos mesmos ideais que nós, estão pelas mesmas causas. Poder trabalhar junto com eles é sempre muito gratificante. Quanto mais pessoas gostarem das nossas ideias, dos nossos produtos, quanto mais elas multiplicam isso, maior nossa satisfação com o trabalho que realizamos.

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