No último mês de novembro, estudantes de escolas discutiram a educação midiática no Congresso Nacional, em Brasília. O evento, histórico para os alunos, também foi um grande passo para a educomunicação no Brasil. Os jovens debateram o tema com especialistas e representantes da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco). Mas, afinal, do quê se trata a educomunicação?
Os primeiros movimentos de educomunicação surgiram ainda no século XX, durante os regimes militares da América do Sul. Eram atividades realizadas pelos movimentos revolucionários na época, especialmente como educação midiática contra a censura dos ditadores. O termo foi utilizado pela primeira vez pelo argentino Mario Kaplún, que se denominava educomunicador, na Venezuela, ainda nos anos 80, quando lecionava fotografia, audiovisual e jornalismo popular no Centro de Serviço e Ação Popular (CESAP).
Já na década de 90, Ismar Soares, professor de comunicação da USP, promoveu uma série de pesquisas e conseguiu estabelecer a partir disso um novo campo em ascensão na área. De lá pra cá, a interface se desenvolveu e hoje a própria USP possui curso de Licenciatura na interface de educação e da comunicação, com projetos em mais de 500 escolas de São Paulo.
Segundo o professor do curso de Licenciatura em Educomunicação da USP, Dr. Claudemir Viana, apesar do surgimento do termo ser recente, a educomunicação é um fenômeno humano. “As pessoas confundem um pouco. Apesar de usar o aparato tecnológico, o trabalho do educomunicador é muito mais que apenas ligar comunicação com educação e o uso de tecnologias”, pontua Viana. De acordo com ele, é um processo de educação comunicativa, onde o aluno participa diretamente na construção do conteúdo e na forma como ele é apresentado.
“Há um desconforto nas escolas tradicionais, pois a educomunicação descentraliza o saber. O aluno constrói junto com o professor e isso, de certa forma, assusta o modelo hegemônico das escolas”, comenta o docente. Claudemir Viana conta também que é uma troca que exige a participação de todos os envolvidos para realizar as práticas. “É a proposta de outro modelo de comunicação, onde o estudante desenvolve pensamento crítico e de interação com a mídia”, explana.
Para o professor, a sociedade tem um modelo industrial de educação, onde os alunos saem prontos para o trabalho, mas sem pensamento crítico sobre o que acontece ao redor. Entretanto, ele enxerga algumas mudanças neste fenômeno. “Os alunos são sujeitos integrantes da educação. As ocupações dos alunos secundaristas são exemplos de uma geração com posições radicais. Isso é uma grande revolução, por eles exigirem melhorias do Estado”, conclui Viana.
Doutora em Ciências da Comunicação pela USP e professora do departamento de Pedagogia da Universidade do Estado de Santa Catarina, Ademilde Sartori considera que a educomunicação ajuda na forma de pensar na operacionalização dos princípios apresentados em sala de aula. “A Educomunicação poderá contribuir para construção de conhecimentos capazes de impulsionar mudanças em nossa sociedade, desde que suas ações sejam planejadas com coerência entre a teoria e a prática, na interação, na construção coletiva do conhecimento”, aponta.
Ela afirma que a educomunicação pode proporcionar uma compreensão muito maior aos alunos. “A aprendizagem numa perspectiva educomunicativa é oportunizar o direito à comunicação de todos os sujeitos envolvidos no processo. Este campo prima pelo entendimento de que não basta incluir recursos tecnológicos no ensino”, reitera.